sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Festas, Feiras e Romarias

O Verão é o período predilecto para Festas, Feiras e Romarias, que enchem de alegria as nossas gentes do Norte ao Sul do país, aproveitando muitas vezes a presença dos nossos migrantes, que regressam para matar saudades e se fortalecerem nas suas raízes lusas.

A complexidade deste fenómeno, no qual o pagão e o cristão se misturam e entrecruzam, tornando difícil a destrinça das fronteiras, desaconselha análises simplistas e leituras precipitadas. O tema é, aliás, demasiado vasto para poder ser abordado em todos os seus aspectos, nem será essa a minha pretensão, mas, tão só, tecer algumas considerações sobre aquilo que me parece importante, a partir da perspectiva cristã. 

Como muitas vezes o que é notícia é a não-notícia, o negativo, eu, como cristão, acredito, como diz o provérbio, “que há mais árvores a crescer do que a cair, na floresta”, pelo que, gostaria de me centrar, sobretudo, nos aspectos positivos.

O Cristianismo teve ao longo dos séculos a preocupação de não negar, nem apagar, mas tentar cristianizar as tradições dos povos pagãos onde a fé cristã foi chegando, talvez nem sempre o tenha feito da forma mais correcta, nem mais eficaz, mas esse é um trabalho de sempre, logo, também de hoje. Não podemos, por isso, fazer “tábua rasa” das tradições e das manifestações religiosas, frequentemente sincretistas, que encontramos por todo o nosso país. Temos sim, na minha opinião, que respeitar, valorizar e explicar o sentido, sem esquecer que a fé se propõe e nunca se impõe. Como diz a Bíblia, “não se pode apagar o que ainda fumega”.

Se posso falar um pouco das minhas experiências em pregações por esse Alentejo fora, posso testemunhar que encontrei muito desconhecimento dos Santos padroeiros das nossas localidades e festas, pelo que, sempre tenho tido a preocupação de dar a conhecer a vida e obra daqueles que, muitas vezes, ilustres desconhecidos.Tem sido uma experiência altamente gratificante.

É missão da Igreja dar o sentido, aproveitar as virtualidades de todos estes festejos, sabendo que nem sempre é fácil, pelo peso das tradições avessas à mudança e actualização. É bom, contudo, não esquecer que Cristo também não encontrou só facilidades na sua acção apostólica, o mesmo sucedendo com os Apóstolos.

Às vezes é mais fácil, mas menos cristão, esgrimir argumentos do género,“nâo há nada a fazer”, "não vale a pena"; "parece que não estão interessados". O que diria Cristo se ouvisse os seus seguidores falar desta forma?! S. Paulo, o grande Apóstolo a quem a Igreja tanto deve. encontrou muitíssimas dificuldades e adversidades e nunca desistiu, convencido de que a ele competia-lhe, plantar, outro regaria, e Deus faria frutificar. Mas se a semente não for lançada, como podemos esperar que daí algo nasça?

Para além destes aspectos, não esqueçamos tantos outros cheios de virtualidades, pois estes acontecimentos proporcionam a congregação de pessoas e comunidades, geram dinamismos de vitalidade e de empreendedorismo, criam riqueza, fomentam a sã competição, preservam tradições e expressões de identidade, que permanecem escondidas ao longo do ano, semeiam a esperança, tão necessária nestes tempos em que a palavra crise é omnipresente e omnipotente.
Padre Manuel António Guerreiro do Rosário
in Ecos de Grândola, nº 245, 14 de Setembro de 2012