quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Descobre a fé católica depois de 20 anos como budista e é membro laico da Ordem dos Dominicanos

Era professor de Filosofia indiana e tibetana

Paul Williams fala da sua mudança «desde a autêntica desesperação até à esperança».

Actualizado 24 Janeiro 2013

Sara Martín / ReL


Paul Williams cresceu numa família ligada à religião anglicana. Em adolescente juntou-se ao coro da paróquia — «encantava-me cantar música sacra», reconhece —, confirmou-se na década dos sessenta e levava a Sagrada Comunhão às casas. Mas depois, na sua juventude, começou a mudar, deixou o coro e não frequentou mais a paróquia: «Deixei o cabelo comprido e comecei a vestir estranho», explica.

Paul foi para a Universidade de Sussex para estudar Filosofia. Para isso então, «tal como muitos na década de 1960», tinha desenvolvido um grande interesse pela meditação e as coisas indianas. Canalizou todo esse interesse de forma particular na Filosofia indiana, e fez o doutoramento em Filosofia budista pela Universidade de Oxford. A mudança interior havia começado.

Professor e referência do Budismo
Até 1973 já tinha começado a pensar em mim mesmo como budista. Finalmente fiz-me budista formalmente segundo a tradição do Dalai Lama do budismo tibetano», continua contando. Na década de 1980, Paul começou a ensinar na Universidade de Bristol, e foi ali onde criou um centro budista. Também começou a ensinar a prática do Budismo em centros budistas.

Além do meu trabalho académico em Filosofia budista na Universidade, escrevi e dei conferências como budista tibetano. Apareci na televisão e na rádio». Williams já era conhecido pela sua posição e pela sua defesa da religião budista. Chegou a participar em diálogos públicos e privados com cristãos, incluindo com Hans Küng e Raimundo Pannikkar.

«Estava interessado na Filosofia, mas também estava interessado na meditação e o exótico Oriente. A muitos de nós parecia-nos atractivo o budismo, entre outras coisas, porque parecia muito mais racional que as demais opções, mas também muito, muito mais exótico», reconhece. Em particular, o budismo parecia-lhe «muito mais sensato» que uma religião teísta como o Cristianismo.

A existência de Deus e a reencarnação
Os budistas não crêem em Deus, explica Paul. «Não parecia haver nenhuma razão para crer em Deus, e a existência do mal convertia-se para nós num argumento positivo contra a existência de Deus. Quando dei um passo atrás e tratei de ser o mais objectivo possível, Deus parecia-me cada vez menos provável. No budismo cada um tem um imenso, sofisticado e exótico sistema de moralidade, espiritualidade e filosofia que não requer Deus em absoluto», raciocina. «De repente, todas as dificuldades que envolvem a aceitação da existência de Deus ficam de lado».

Sem dúvida, com os anos Paul desenvolveu um «mau estar crescente» com respeito à reencarnação e à doutrina do karma. «Os budistas dizem que todos renascemos um número infinito de vezes. Não se necessita de nenhum Deus para dar começo porque não existe um começo. As coisas estiveram por aí (em alguma parte) por toda a eternidade». A reencarnação nunca foi parte da ortodoxia cristã. E há boas razões para isso. É incompatível com certas doutrinas cristãs absolutamente centrais, incluindo o valor inestimável de cada pessoa de forma individual e a justiça de Deus. «Se a reencarnação é certa, sendo realistas, não temos esperança. É uma doutrina sem esperança. Como budista, dei-me conta de que não tinha nenhuma esperança», admite Paul.

«Dei-me conta de que, se o Budismo era a verdade, a menos que alcançasse a iluminação nesta vida, — que é quando o ciclo completo da reencarnação chega ao seu fim —, não tinha esperança. Cada um de nós, a pessoa que somos, perde-se para sempre. Se me reencarnava, a pessoa que sou agora nesta vida deixava de existir, porque o budismo nega explicitamente a possibilidade de renascer sendo a mesma pessoa. E isso para mim representava uma completa falta de esperança. Estava absolutamente certo de que a religião budista tinha razão? A reencarnação supunha, então, uma incompatibilidade com o valor infinito da pessoa», pergunta-se.

O cristão tem esperança
Mas o cristianismo é a religião do valor infinito da pessoa, e assim o descobriu Paul na sua viragem espiritual. A pessoa que somos ou que podemos chegar a ser não é algo acidental ou sem importância: «Cada pessoa é uma criação individual de Deus, infinitamente amada e valorizada como tal por Deus. Nisto se baseia toda a moral cristã, desde o valor da família, até o altruísmo e a abnegação dos santos. E devido a que somos infinitamente valiosos para Deus, Jesus Cristo morreu para salvar-nos a cada um de nós. Não morreu para salvar seres reencarnados. E nós somos as pessoas que somos, com a nossa história, nossa família e os nossos amigos», raciocina.

Foram estes pensamentos os que começaram a produzir uma mudança interior em Paul. Se se podia sobreviver à morte — e a fé dos cristãos que tem origem na ressurreição de Cristo baseia-se nisto —, não podia ser em termos de reencarnação, porque a reencarnação e o valor infinito da pessoa são incompatíveis. «A visão cristã da morte é de esperança e de triunfo, porque não vê a morte como um vazio, um nada. A história não terminou para as pessoas que somos, e sabemos que não nos separaremos para sempre dos nossos amigos e familiares».

A prioridade para a Igreja Católica
Foram pensamentos como estes os que, pouco a pouco, me levaram longe do Budismo. Os cristãos têm esperança e eu queria tê-la, assim que voltei a reexaminar as coisas que havia rejeitado. Convenci-me de que era racional crer em Deus, muito mais racional que não crer Nele. E ao chegar a crer em Deus, já não podia ser budista, tinha que ser teísta». Ao examinar todas as possibilidades, Paul surpreendeu-se ao dar-se conta de que a ressurreição de Jesus Cristo de entre os mortos era a explicação mais racional. «Isso é o que me fez pensar que o cristianismo era a opção mais racional de entre as religiões teístas. E, como cristão, dei a prioridade à Igreja Católica. Agora vivo em gratidão e esperança. E nunca, nunca, nem por um momento, me arrependi da minha decisão», conclui. Mais ainda, inclusive casado e com três filhos, decidiu fazer-se membro laico da Ordem dos Religiosos Dominicanos.

Paul Williams escreveu vários livros sobre o cristianismo e o budismo: The Unexpected Way (O caminho inesperado), Buddhism from a Catholic Perspective (O Budismo desde uma perspectiva católica) e uma colaboração para The Catholic Church and the World Religions (A Igreja Católica e as religiões do mundo)


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