quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

O excesso de cortes mata o crescimento

Economistas do Fundo Monetário Internacional criticam política de cortes

Carmine Tabarro

ROMA, Terça-feira, 15 Janeiro 2013

Nos últimos meses, foi denunciado diversas vezes o fracasso das políticas utilitaristas de austeridade e de rigor orçamentário. A história económica nos ensina que as políticas de austeridade excessiva em tempos de crise são devastadoras e só originam novas escaladas de crise, como vem acontecendo na Europa nos últimos anos.

Finalmente, com honestidade intelectual incrível, este erro foi admitido por Olivier Blanchard, ex-economista chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Ele publicou recentemente, em co-autoria com Daniel Leigh, do departamento de pesquisas do FMI, um estudo cujo título é enigmático, “Erros de Projecção de Crescimento e Multiplicadores Fiscais”, mas cujo conteúdo é muito concreto.

A pesquisa dá prosseguimento e confirmação a um estudo prévio, divulgado no World Economic Outlook em Outubro passado, que mostrava que os planos de austeridade e o rigor orçamentário na zona do euro, feitos de maneira violenta, tiveram mais impacto negativo no crescimento do que tinha sido inicialmente estimado que teriam.

O estudo se concentra na relação entre a redução do deficit público e o crescimento económico. Os modelos usados ​​pela troika (BCE, UE, FMI) para os programas de ajustes dos países que usam o euro se basearam em um multiplicador de cerca de 0,5: ou seja, eles estimavam que, para cada 1 ponto de corte no deficit, haveria uma diminuição no crescimento de cerca de 0,5 ponto.

O estudo de Blanchard-Leigh conclui que "os multiplicadores implícitos nas previsões foram subestimados, em média, em cerca de uma unidade".

A diferença entre 0,5 e 1,5 é compreensivelmente considerável. Significa que, para cada corte de 1 ponto no deficit, o crescimento caía 1,5 ponto. Este erro tem consequências dramáticas.

Para explicar o engano, Blanchard enumera uma série de factores especiais da Grande Recessão: as taxas de juros já próximas de zero, e, portanto, a impossibilidade de se contrabalançar a acção fiscal com a política monetária; um sistema financeiro ineficiente, que fez o consumo depender mais da renda actual do que da futura; a presença de grandes recursos não utilizados; e a sincronização continental das políticas de ajuste. Todos estes factores próprios da crise do euro afectaram as estimativas dos multiplicadores.

A admissão do erro daria razão aos muitos opositores das políticas de ajuste? É claro que não. O problema do ajuste das finanças públicas continua sendo essencial em quase todas as economias avançadas. O que ainda deve ser determinado direito é o ritmo de uma recuperação adequada e sustentável.

Em outras palavras, a consolidação das contas públicas deve ter o ritmo de uma maratona, não de uma corrida de cem metros. O FMI se tornou porta-voz desta nova consciência dentro da troika, para que haja programas credíveis no médio prazo.


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