terça-feira, 22 de janeiro de 2013

«O Papa veste Prada» e outras mentiras interessadas sobre o vestuário de Bento XVI

Os seus sapatos vermelhos são obra de um alfaiate de Novara

Joseph Ratzinger, antes e depois de ser Papa, leva o seu calçado a reparar a um sapateiro peruano próximo do Vaticano.

Actualizado 19 Janeiro 2013

Sara Martín / ReL


A grande mentira contra Bento XVI começou poucos meses depois do início do seu pontificado, da mão do diário britânico The Independent, cuja senda seguiu em Itália o periódico La Repubblica: assegurava categoricamente que o Papa leva «óculos de sol de desenho moderno e juvenil, com cristais amplos e envolventes, particularmente durante as audiências ensolaradas, [...] e um par de mocassins vermelhos desenhados por Prada, uma das firmas de moda mais exclusivas». Ainda que, isso se, depois reconhecem: «a casa de desenho não o confirmou».


Assim, graças a uma mentira que se repete mil vezes e parece converter-se em verdade, centenas de pessoas alimentadas na atmosfera mais anticlerical foram «criando» a lenda através dos anos: o Papa veste Prada, quer dizer, vive no luxo, é servido e venerado no mundo, enquanto as pessoas morrem de fome em África. Em 2008, o Osservatore Romano tratou de nega-lo, obtendo escassos resultados por desgraça. O mesmo parco resultado teve o novo intento da Agencia Ansa dois anos depois.

A pessoa que está por detrás dos sapatos
Recentemente se retornou ao tema graças a uma página do Facebook dedicada ao Pontífice. E qual é a verdade que se esconde por detrás de todas as mentiras? É Adriano Stefanelli, de profissão alfaiate na cidade de Novara, quem confecciona os sapatos vermelhos do Papa. A cor vermelha, indica o alfaiate, é sinal do sangue do martírio, e são parte da vestimenta do Papa desde a Idade Média. As dá porque, explica ele mesmo: «Às vezes a paixão paga mais que o dinheiro».


As suas relações com o Vaticano, começaram em 2003 quando Stefanelli, vendo na televisão a Via Crucis, viu a João Paulo II instável e com sofrimento, e decidiu confeccionar-lhe um par de sapatos mais cómodos. E possivelmente sim que o sejam, porque desde então continuou confeccionando-os também para Bento XVI.

E o que se passa se os sapatos se estragam? Se tiram e se fazem outros novos? Por suposto que não. Se enviam a Antonio Arellano, um peruano que tem a sua oficina de reparação a poucos passos do Vaticano. Por suposto, por um preço.


«Ratzinger vinha pessoalmente quando ainda não tinha sido eleito Papa. Depois, obviamente os sapatos os trazem os seus colaboradores. São sapatos negros ou vermelhos, frequentemente com arranhões ou consumidos pela ponta», explica Arellano. «Ainda assim», — precisa o artesão sorrindo—, «ao Papa se trata como a todos os clientes. Não aceita nenhum favoritismo e paga como os demais». Está «orgulhoso» de encarregar-se dos sapatos de um cliente tão ilustre, que sempre lhe faz chegar uma carta com o seu agradecimento pela óptima reparação: «Mas são coisas privadas e sempre o serão», assegura para terminar com a curiosidade. «Também as monjas de Wotjyla traziam-me os sapatos do Papa polaco para repará-los», reconhece.

E esse anel de ouro?
Outro dos temas mais habituais quanto ao vestuário do Papa refere-se ao anel de ouro que leva. Um anel, dizem os anticlericais, que vale milhares de milhões de euros e que, se se vendesse, «se alimentaria toda a África». Quem não escutou esta frase alguma vez? E sem dúvida, é ouro puro, tem o tamanho e, portanto, o valor comercial das alianças de casamento e utiliza-se para selar todos os documentos oficiais expedidos pelo Papa. Para não mencionar que, quando morre o Papa, se rompe com um pequeno martelo de prata, se funde e se reutiliza para o próximo Papa. Assim que, tecnicamente, foi sempre o mesmo anel durante séculos.

A Igreja não se queixa

As conclusões óbvias de toda a maquinaria de anti propaganda articulada contra a Igreja utilizando a desculpa dos sapatos são do próprio artigo do grupo de Facebook: «Disparar contra a Igreja é tão fácil como fazê-lo contra a Cruz Vermelha. A Igreja, quando responde, o faz simplesmente com palavras. Não vai mais além, não transcende, não se queixa, não denuncia. Portanto, não só não se arrisca nada atacando a Igreja, mas sim que além disso te convertes na parte dos emancipados, dos livre pensadores», assegura o autor do artigo, Giacomo Diana. «A grande maioria dos católicos está mal informada, apáticos na sua fé, quase mais dispostos a crer no primeiro anticlerical que passa pela rua que no seu Pontífice. E de entre os católicos que conhecem a verdade, a maioria das vezes calam, ou falam com um fiozinho de voz para não parecer intolerantes, para não contradizer o pensamento dominante».


«Este engano dos sapatos Prada» — conclui o excelente artigo — é uma das muitas demonstrações de como a mentalidade actual é dirigida por lugares comuns, tópicos falsos e prejudiciais, e como aqueles que se crêem informados e independentes, de facto, estão impulsionados pelas mentiras do anticlericalismo ou são escravos da sua mesma ideologia».

Bento XVI passou toda a sua existência nas bibliotecas, entre livros, escrevendo e lendo. É julgado por um sem fim de intelectuais como uma das mentes mais cultas e brilhantes do mundo moderno, não só da história da Igreja. Só há que pensar na ateia e anticlerical Oriana Fallaci que tanto lhe queria («esse homem», — dizia—,«que me faz sentir menos só com os seus livros...») e que, ao morrer, quis legar-lhe toda a sua biblioteca pessoal. «Pense nisso», convida Giacomo Diana: «Uma célebre escritora ateia que deixa em herança ao Papa o que ela mais queria no mundo: os livros. Que quer dizer isto? Que é bastante triste e deprimente que a um Papa de tal estatura intelectual não se lhe possa mais que tocar os narizes com os sapatos e, bisbilhotando-lhe maliciosamente, inventar mentiras letais que se estendem como se fossem uma verdade indiscutível, impondo a imagem grotesca de um fashionista entrado nos anos para um pontífice ancião enamorado da cultura e da fé católica, que passa o dia inteiro na oração, na leitura e na escrita, como o demonstra a grande quantidade de livros que escreveu».


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