segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Pessoas submetidas ao Reiki mostraram sintomas de actividade demoníaca em grau de opressão

Gareth Leyshon, capelão da Glamorgan University (Gales)
 



Actualizado 29 Janeiro 2013

P. J. Ginés / ReL


O padre Gareth Leyshon (www.drgareth.info) combina uma amplitude de visão especial para examinar assuntos ligados ao Reiki, “as energias espirituais” ou a “Nova Era”. Por um lado, é cientista: doutor em Física. Por outro, é sacerdote católico da diocese de Cardiff, Gales. Como assessor espiritual da Renovação Carismática Católica na diocese não é alheio à exploração do sobrenatural. E como capelão da Universidade de Glamorgan conhece as inquietudes dos jovens em busca espiritual.

Tudo isso o levou a analisar as terapias de cura “Reiki” e a concluir que, independentemente de que pareçam curar ou não, são incompatíveis com a fé cristã.

Canalizar e sintonizar o ki


Ainda que haja uma infinidade de mestres e grupos de Reiki, todos coincidem nuns elementos básicos:

- O Reiki consiste em manipular ou canalizar uma “energia espiritual” chamada ki (chi, na China; prana, na Índia) para lograr sanar ou curar.

- Os praticantes de Reiki, aqueles que canalizam esta energia, devem ser iniciados por outros praticantes de nível mais elevado num ritual de “harmonização” ou “sintonização” que usa símbolos (objectos, técnicas) secretos.

Como doutor em Física, o padre Leyshon comenta: “na linguagem da Ciência, energia tem um significado preciso: pode ser medida e convertida de uma forma a outra”.

Mas no seu Crítica Católica à Arte Curativa do Reiki, Leyshon vai directamente ao pastoral, pensando nos cristãos que se sentem atraídos pelo Reiki. “Não vou tentar identificar a realidade ontológica do ki”, afirma, porque a ciência necessitará de uma análise séria e empírica para dar uma conclusão, para saber se cura ou não cura e porquê. Mas as possibilidades são claras:

  1. Se o ki não existe, se não há evidência da sua existência, qualquer intento de manipulá-lo é uma superstição, “um pecado segundo o artigo 2111 do Catecismo da Igreja Católica”.
  2. Se se encontrasse evidência de que há propriedades curativas no corpo humano que a medicina ocidental desconhece, e se chamasse a isso “ki” e se pudesse manipular, seria uma propriedade física, como outras da ciência, sem maiores problemas morais. Mas isto não se estabeleceu, e os praticantes de Reiki não falam do ki como algo físico, mas sim espiritual. Inclusive quando dizem que é algo “natural” não querem dizer que seja só físico, porque nas filosofias orientais não há clara distinção entre o natural e o sobrenatural.
  3. Há quem diz que o ki e a sua manipulação, o Reiki, é algo espiritual, não físico, e que vem de Deus; mas o padre Leyshon considera que não se pode provar que venha de Deus, que poderia vir de fontes demoníacas, e que já tão só arriscar-se a uma manipulação assim sem a segurança que dá a Revelação já é pecado de “tentar a Deus”. E mais, existindo no cristianismo os sacramentos, os sacramentais e a oração pelos enfermos.

    “Em nenhum sítio a Escritura ensina-nos a canalizar energia como faz o Reiki e supor que Deus nos assistirá de uma forma que Ele não revelou que seja vontade sua é um pecado de tentar a Deus”, escreve o capelão da universidade galesa.
  4. Inclusive se o ki não tivesse que ver com actividade demoníaca mas sim com um poder psíquico especial, o Catecismo o proíbe no seu ponto 2117, porque consistiria em “domesticar poderes ocultos para coloca-los ao próprio serviço e ter um poder sobrenatural sobre outros, ainda que seja para restaurar a sua saúde” (segundo descreve o Catecismo).

De todas as formas, o padre Leyshon recorda que a imensa maioria de praticantes de Reiki admite que o que fazem é canalizar até os seus clientes/pacientes uma “energia espiritual que vem de mais além deles mesmos”, não crêem que seja uma habilidade psíquica própria.

Rituais de enlace? Isso é idolatria


Ainda mais: para ser praticante de Reiki há que passar por um ritual de iniciação. Há autores, como Diane Stein no seu livro “Essential Reiki”, que asseguram que nos níveis elevados de Reiki se “invocam” mestres espirituais, “guias”, seres não visíveis mas que conduzem o praticante. Evidentemente, isto é invocação de espíritos, algo proibido pelo cristianismo, haja ou não espíritos ou demónios que respondam ou não à chamada.

Mas inclusive no primeiro nível do Reiki, o facto de que seja necessário um ritual para “sintonizar-se” ou “entrar em harmonia” demonstra que não se trata de uma simples terapia. Usar rituais para “enlaçar” (que dizer, “religião”, do latim “religar”) é uma actividade religiosa, e uma actividade religiosa sem o Deus cristão é paganismo ou idolatria, incompatível com o cristianismo.

O que dizem os exorcistas

Além da teoria, como assessor da Renovação Carismática e estudioso da temática, o padre Leyshon tem evidências pelo trabalho de exorcistas diocesanos e equipas de oração de libertação de que pessoas submetidas a um “toque curativo”, que era Reiki ainda que às vezes não se dissesse ao paciente, logo mostraram sintomas de actividade demoníaca em grau de “opressão”.

O sacerdote cita sobre isto os casos do manual Deliverance from Evil Spirits, de Francis MacNutt, e Deliverance from Evil Spirits, de Scanlan & Corner; todos eles autores católicos com experiência no tema. Leyshon insiste em que esta abertura ao demoníaco “é uma vulnerabilidade, não uma certeza, para aqueles que se expõe desta forma”.

O enfoque pastoral

Ainda que como doutor em física o padre Leyshon poderia tentar dizer simplesmente aos seus paroquianos ou aos rapazes da universidade que “segundo a Ciência não há evidência alguma de que exista essa energia ki”, nem sempre será a resposta pastoral mais eficaz.

“Os pastores podem prescindir do tema de se o Reiki funciona ou não e de qual é o seu mecanismo, simplesmente insistindo em que os cristãos estão comprometidos a não procurar nenhuma fonte espiritual que não seja o Deus Trino e Uno, que não revelou que o Reiki seja uma forma de administrar o Seu Poder”.

Menos proibir e mais curar

“Opor-se ao Reiki pode ser uma oportunidade para evangelizar: há que por menos enfaso no proibido e mais no verdadeiro poder curador de Cristo, a que se pode aceder com os sacramentos, através dos mecanismos de cuidado pastoral da comunidade e mediante ministérios de oração de cura explicitamente cristãs”, propõe.

Também recomenda a confissão sacramental para reparar o contacto com o Reiki, inclusive se por ignorância não houve pecado formal. Propõe que “o confessor deve estar pronto para orar por libertação de influências espirituais opressivas – algo que pode fazer-se de forma inaudível - usando as directivas actuais do Vaticano, se há evidências de ‘obsessão’, frequentemente em forma de uma tentação recorrente numa área particular” (remete-se para o Cânone 1172 do código de 1983, “interpretado à luz da carta de Doutrina da Fé de 1985 Inde ab aliquot annis). Casos mais complexos que esses, recorda, “estão reservados ao exorcista diocesano”.

A missa e o dinheiro

Na missa, abundam as leituras sobre adorar só a Deus, ou sobre o poder curador de Cristo: estas são ocasiões para falar contra o uso do Reiki, comenta Leyshon.


E o sacerdote coloca um ponto mais inquietante que o demoníaco: o dinheiro! Se um paroquiano está realizando práticas de Reiki e outras terapias “curadoras” para ganhar a vida ou arredondando receitas da sua farmácia, loja de flores ou de perfumes… Pode-lhe oferecer a comunidade cristã apoio económico ou laboral que lhe facilite abandonar essa linha de negócio, que em época de crise pode ser crucial?

Quanto ao trato com as autoridades civis, considera que a melhor estratégia é conseguir que estas obriguem a etiquetar o Reiki em publicidade e folhetos como uma “prática espiritual”, não uma terapia.

E aos cristãos, insistir: não devem acudir a nenhum poder espiritual que não seja Jesus Cristo o Salvador, Deus Pai bom e o Espírito Santo, a Santa Trindade.


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