terça-feira, 26 de março de 2013

Notas da Páscoa de D. António Vitalino

Começar tudo de novo
Páscoa 2013

1. Primavera e Páscoa

Todos os anos passamos por quatro estações, muito diferentes entre si, sendo a primavera a que mais maravilhas e beleza nos proporciona. Com excepção dos amantes dos desportos de inverno ou os veraneantes das praias, para a maioria das pessoas é a estação mais desejada. E não preciso de explicar porquê.


Para os judeus e os cristãos é no início desta estação, por altura da lua cheia, que se celebra a festa mais importante da sua fé, a Páscoa, que para uns faz memória da libertação da escravidão no Egipto e para os segundos da paixão, morte e ressurreição de Jesus, que reconcilia a humanidade pecadora com Deus, liberta da raiz da escravidão e dá a certeza da possibilidade de uma nova primavera da vida.


Ao constatar tantos sinais de morte, de falta de esperança, de crise na politica, nas finanças, na economia, na sociedade, nas empresas e na família, interrogo-me e grito: quem nos libertará desta escravidão? Levanto os olhos e contemplo um corpo suspenso na cruz. Recordo as narrativas dos Evangelhos sobre a vida do crucificado. Viveu fazendo o bem, falou com autoridade e anunciou um novo Reino, aproximou-se de quem estava doente e curou, usou de misericórdia e não teve receio de chamar pecadores para seus discípulos, acusado e difamado não quis defender-se com os meios humanos, proclamou o perdão e o amor aos inimigos e ao morrer pediu perdão para os algozes. Mataram-no, sendo inocente, mas o seu amor foi mais forte que a morte, porque Deus o ressuscitou, está vivo. Esta é a Páscoa dos cristãos, a aurora dos novos tempos, a primavera de uma vida nova e de uma nova criação. Com a ressurreição de Cristo tudo começa de novo.

2. Chamados e enviados a anunciar novos tempos

A Páscoa de Jesus não é um acontecimento do passado, lembrado apenas entre os cristãos, dentro dos templos. O ressuscitado aparece aos seus discípulos atemorizados, dá-lhes o seu Espírito e envia-os a todo o mundo, a anunciar tudo o que ele ensinou e fez, a fazer discípulos, baptizando-os, isto é, inserindo-os na sua morte e ressurreição, para que vivam ao seu modo, amando como ele o fez.


Este fermento de uma nova vida, pessoal e comunitária, continua a levedar as massas, por vezes de modo quase imperceptível e invisível. Com a eleição do novo Papa Francisco tornou-se bem patente. Mesmo os não crentes sentiram a nostalgia de uma nova maneira de ser e de viver, que dá esperança a um mundo acorrentado por inúmeros grilhões, que trazem a humanidade deprimida e a impedem de viver na alegria da fraternidade universal, numa atitude de atenção e cuidado para com a natureza e os mais frágeis, crianças, doentes e idosos.


O desenvolvimento do mundo não é apenas na ordem do progresso económico e tecnológico, mas também na dimensão moral e espiritual. Subsistem algumas fontes de corrupção, vírus mortais da esperança. A afirmação da fé na Páscoa de Jesus Cristo continuará a ser a vacina mais eficaz contra os inimigos de uma vida humana sadia e com sentido de eternidade.


A celebração da nossa fé pascal, na alegria da reconciliação com Deus e uns com os outros, no anúncio e testemunho da misericórdia manifestada em Jesus Cristo e que interpela os seus discípulos a sê-lo também, vai transformando a nossa vida, tornando-a conforme a Ele. É o fermento de uma vida nova, de que a humanidade carece.


Felicito as comunidades do Caminho neo-catecumenal que, nas tardes dos domingos do tempo pascal, estarão no parque de merendas da cidade de Beja a anunciar a alegria da fé, que brota da ressurreição de Jesus. Saúdo também os grupos sinodais espalhados pela diocese, que têm estado a reflectir sobre a Igreja que somos e queremos ser, mais próxima de todos, mais simples, desprendida, missionária e alegre, para alimentar a esperança de um mundo deprimido, escravizado pelos poderes financeiro, económico e politico, porque desconhece a energia vital que brota da cruz e da ressurreição de Cristo.


Nesta fé, manifestada e alimentada na memória da paixão, morte e ressurreição de Cristo, desejo a todos os diocesanos, ouvintes e leitores, santa alegria pascal.
† António Vitalino, bispo de Beja