sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Recenseamento da prática dominical

A prática dominical é dos mais importantes indicadores do comportamento religioso das populações católicas. O terceiro mandamento da Lei de Deus ordena a santificação de um dia de cada semana; e o primeiro preceito da Igreja concretiza-o com a obrigação do descanso religioso e da participação na Eucaristia aos domingos e dias santos.

Justificam-se assim os recenseamentos da prática dominical, que se têm feito um pouco por todo o mundo católico. Em Portugal, depois de várias iniciativas de âmbito diocesano (p.ex.: Lisboa, 1955) e paroquial, o Episcopado promoveu os recenseamentos de 1977, 1991, 2001 e 2013. Na diocese de Beja, fez-se mais um, intercalar, em 1985, que teve o mérito de avaliar a recuperação da frequência da missa dominical fortemente afectada pelas perturbações político-sociais de 1974 (Revolução de Abril) e de 1975 (“Verão Quente”).

Apresentamos os dados para o Concelho de Grândola e suas paróquias:



1977 1985 1991 2001 2013
Concelho de Grândola 161 326 400 556 661
Azinheira dos Barros 20 89 47 57 50
Grândola 100 219 282 430 518
Melides 41 18 54 69 88
Santa Margarida da Serra - - 17 - 23


sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Ser Pessoa, Não uma Coisa


É voz comum lamentar-se a ausência valores, afirmar-se que estamos a caminhar não se sabe para onde, que a actual crise é uma crise civilizacional, e até se traçam cenários catastróficos (a manterem-se inalteráveis algumas variáveis) para Portugal, para a Europa e para o Mundo. É também vulgar ouvirmos falar da pessoa humana, da sua dignidade e dos seus direitos, em grandes parangonas.

No meio de todas estas considerações e confusões, creio que importa, com discernimento, perceber que tem de haver uma hierarquia de valores, sob pena de cairmos na anarquia total, que não sei se convém a alguém...

Como pessoa e como cristão, para mim é evidente que o primeiro valor a ter em conta é o ser humano, a pessoa humana. Esta, parece, pois, ser uma questão central com que temos de nos confrontar: O ser humano é ou não o centro das nossas sociedades e dos nossos projectos?

Se estivermos atentos e com o sentido crítico desperto, é fácil perceber que, muito do que se diz sobre o ser humano, não é mais do que mera retórica e dialéctica porque, na prática, nem todos os seres humanos são tratados de igual forma, e quantas vezes a sua dignidade e direitos são postos sob condição, ficando secundarizados no confronto com outros valores ou pseudovalores, que se lhe antepõem e sobrepõem.

Apesar de sabermos tanto sobre o homem, talvez nunca como hoje os atentados à sua vida e à sua integridade foram tão dissimulados e tão disseminados. Importa, por isso, dizer convictamente e com clareza que o ser humano não é uma coisa, não é propriedade de ninguém, não é descartável, não é um meio para, nem muito menos um número. Vale por si mesmo, independentemente da idade, da saúde, da cor da pele, da cultura, da raça ou da religião, e da sua aparência.

Não podemos também fazer dele e das instituições em que se integra, família incluída, uma cobaia, porque as consequências dos erros cometidos pagam-se caro e levam gerações a ser superadas. Lembremos por exemplo, Hiroshima e Nagasaki e os erros cometidos pelas ideologias, nomeadamente o Nazismo. Lembro a este propósito que a ONU declarou o dia 27 de Janeiro, Dia Internacional do Holocausto, para que a humanidade nunca mais esqueça a barbárie cometida por seres humanos contra outros seres humanos. Erros destes não podem ser repetidos, pois estaremos a pôr em causa o futuro e a própria continuidade da espécie humana.

Se me permitem os nossos leitores, gostaria de vos dizer que a Igreja, a propósito da actual crise, tem insistido muito em que ela não é apenas económica e financeira, mas também antropológica e de valores, e daí a sua importância e as consequências tão nefastas e preocupantes, em todos os sectores da vida das nossas sociedades. Por isso, os últimos Papas têm insistido na centralidade do ser humano em todos os processos e projectos, ao ponto de afirmarem que, no campo do desenvolvimento, nenhum merece realmente esse nome, se for feito contra ou à margem do ser humano. O verdadeiro desenvolvimento, disse o Papa Paulo VI na Encíclica "Populorum Progressio", deve ser "do homem todo e de todo o homem". Esse é o coração da mensagem cristã, mesmo quando os membros da Igreja se esquecem e defendem outras prioridades que não as de Cristo e do seu Evangelho, onde a centralidade da pessoa humana é inquestionável.

Pe. Manuel António Guerreiro do Rosário
in Ecos de Grândola, nº 262, 14 de Fevereiro de 2014

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Ser humano: pessoa ou coisa?


oje em dia dispomos de meios que nos permitem saber cada vez mais sobre o Homem. A globalização também aproximou a comunicação entre as pessoas e tornou o mundo uma autêntica “aldeia global”. Conhecimento deveria gerar consequentemente respeito, defesa, promoção mas, infelizmente, não é isso que vemos tantas vezes acontecer.

O perigo da coisificação e da despersonalização do ser humano é real, tal como a insensibilidade de uns para com os outros, uma vez que a memória é curta e o imediatismo depressa nos faz esquecer o drama de há uns instantes atrás. Apesar de até podermos ver o rosto e aprender os nomes uns dos outros, corremos o risco de inverter facilmente as prioridades e esquecermos o outro.

Hoje, por tudo o que sabemos e pelos meios de que dispomos, deveríamos fazer mais pelo ser humano: para erradicar a pobreza deste mundo; combater as doenças endémicas, que continuam diariamente a ceifar vidas; encontrar soluções dignas para os pobres do terceiro mundo que procuram, tantas vezes com o risco da própria vida, sair dos seus países e ir à procura de um futuro para si e para as suas famílias; combater as causas das guerras; evitar as injustas discriminações entre seres humanos; defender a vida nascente e aqueles que pela idade e pela doença não se podem defender.

A utopia de um mundo melhor está nas nossas mãos, nas mãos de cada um de nós, se não esquecermos os valores, alterarmos as prioridades e, e se não nos esquecermos que: “O homem é a medida de todas as coisas” (Protágoras).

Como cristão sei que esta foi sempre a grande preocupação de Jesus: colocar o ser humano acima das “coisas”, no centro, sobretudo os mais frágeis, os mais pobres, os mais pequenos, os mais marginalizados; mas, não basta saber, importa que na minha vida isto se transforme numa opção fundamental. E este é o desafio que quotidianamente o papa Francisco nos coloca: “Quem tiver ouvidos para ouvir, ouça”.

Confiança no novo ano!

Pe. Manuel António Guerreiro do Rosário
in Diário do Alentejo, nº 1659, 07 de Fevereiro de 2014