A eleição de um Papa é sempre, para nós católicos, um grande sinal da Providência Divina, pois cada um deles, para além dos critérios humanos que parecem presidir à sua eleição, é a pessoa de que a Igreja tem necessidade no tempo concreto, e cada um deles deixará a sua marca, que ultrapassará os confins institucionais da Igreja. O Papa Francisco é o exemplo perfeito de quanto acabo de afirmar: não constava na lista dos "Papabili”, e ei-lo a marcar a agenda da Igreja e dos grandes líderes e acontecimentos do Planeta Terra, arrastando multidões num crescendo imparável.
O nome Francisco, por ele escolhido, vai revelando a riqueza e o porquê desta opção. Sem ter a pretensão de querer tentar revelar as linhas de pensamento e de ação do Papa, que constantemente nos surpreende, assinalo alguns traços que me parecem ser fundamentais e distintivos:
O nome Francisco, por ele escolhido, vai revelando a riqueza e o porquê desta opção. Sem ter a pretensão de querer tentar revelar as linhas de pensamento e de ação do Papa, que constantemente nos surpreende, assinalo alguns traços que me parecem ser fundamentais e distintivos:
- Centralidade do ser humano, sobretudo, do mais fraco, mais pobre, mais fragilizado, que não pode, de modo nenhum, ser considerado "descartável";
- Preocupação de chegar a toda a gente, em especial, às "periferias' humanas, físicas e existenciais;
- Vontade renovadora da Igreja, nas suas estruturas e mentalidades, simplificando, desfuncionalizando, tornando mais simples, mais transparente, mais participativo o Governo da Igreja, seja no Centro (Roma e Vaticano), como nas Dioceses e demais organismos;
- Pobreza como opção preferencial (já assumida em Puebla, em 1979), que deve envolver e comprometer todos na lgreja, e o Papa dá o exemplo, que deve ser seguido, por convicção e não apenas por aparência;
- Firmeza na condenação dos erros, venham eles de "dentro" ou de "fora" da lgreja, com a criação e implementação de instrumentos e medidas que tornem efetivas as mudanças necessárias;
- Estabelecimento de pontes com as Igrejas Cristãs, com as demais Religiões e com os homens e mulheres de "boa vontade", e aposta no diálogo, não como estratégia, mas como "modus vivendi”;
- Coragem no enfrentar de questões delicadas, "dentro" e "fora" da Igreja, e simplicidade na procura de consensos e de respostas, às vezes inovadoras;
- Preocupação com a natureza, o ambiente e com o futuro deste Planeta e da Humanidade, o que implica a coragem da denúncia de modelos materialistas e desumanos de desenvolvimento, implementados frequentemente à custa da vida e da dignidade de tantos irmãos nossos.
Sem pretender esgotar o rico ministério deste Papa, que já conquistou e aproximou de Deus e da Igreja muitos dos descrentes e até adversários tradicionais, resta-me pedir a Deus que o proteja, para que ele continue a ser no nosso tempo o que S. Francisco de Assis foi em plena Idade Média, um convicto renovador, na fidelidade a Cristo e ao Seu Evangelho; e desperte a Igreja, para que esteja à altura de acolher os desafios deste Papa "vindo do fim do Mundo", e se deixe arrastar e transformar pela força vivificadora do Espírito Santo.
Pe. Manuel António Guerreiro do Rosário
in Ecos de Grândola, nº 280, 14 de Agosto de 2015