segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Liberdade e democracia



Estas crónicas no “Diário do Alentejo” são um gratificante exercício de síntese, ao ter de dizer em poucas palavras o essencial sobre os temas que escolho.

Falar de ausência de liberdade nas ditaduras, em regimes ditatoriais ou de cariz fundamentalista, é já um lugar-comum, mas, quando isto acontece em regimes democráticos, nos quais os direitos dos cidadãos devem estar garantidos, e entre estes se encontram o direito à liberdade e à liberdade religiosa, creio que temos razões para nos preocuparmos. 

Deixo apenas algumas interrogações:

Muitas vezes me tenho perguntado qual é ou quais são os critérios, segundo os quais, alguns consideram ter direito e opinam sobre o que os outros podem ou não pensar e dizer? 

Em nome de que conceito de liberdade se ridicularizam e se impedem, sobretudo os cristãos, de manifestarem livremente a sua fé e as suas convicções éticas sobre questões de relevância na atualidade?

Como entender as omissões no Ocidente sobre as perseguições e discriminações de que os cristãos são vítimas em diferentes pontos do globo?

Não estaremos a caminhar, mesmo que inconscientemente, para formas veladas de intolerância, senão ditadura, ao abrigo de um conceito prático e duvidoso segundo o qual há cidadãos que são “mais iguais do que outros”?

A própria Igreja já viveu ao longo da sua milenar história situações que não quer que se repitam hoje, e, por isso, tem toda a legitimidade para exigir ser respeitada e ver garantidas as condições para o cabal exercício da liberdade religiosa, direito extensivo, obviamente, aos crentes de outras confissões religiosas.

O Concílio Vaticano II inaugurou na Igreja uma nova forma de relação com os crentes de outras confissões religiosas, cristãos ou não, e até com os não-crentes, baseada no diálogo, no respeito pelo outro, na tolerância e na defesa intransigente do ser humano, da sua dignidade e direitos. É por este caminho que a Igreja quer continuar e dar o seu contributo a todos os que quiserem aceitar, na liberdade, as suas propostas.


Pe. Manuel António Guerreiro do Rosário
in Diário do Alentejo, 20 de Março de 2017