sexta-feira, 20 de outubro de 2017

A vida retoma o seu ritmo normal


Durante os meses de Verão há rotinas, ritmos e dimensões da vida que ficam, como que em suspenso, para, em Setembro, retomarem o seu ritmo normal.

Como já tive ocasião de o afirmar, em várias ocasiões, nestes artigos, sou um optimista e, por isso, procuro encarar cada novo Ano Escolar, Académico, Pastoral, com confiança e esperança, sem, como é óbvio, perder a noção da realidade.

Que me perdoem os menos jovens, mas gosto de olhar sempre com muita fé e esperança, para a juventude e para a educação, um binómio fundamental no futuro de qualquer sociedade e da nossa, naturalmente. A educação é, aliás, um sector tão estruturante da vida de um povo, que deveria ser objecto de consensos transversais e de medidas conjunturais e, de modo nenhum, ficar refém, objecto de diplomas legislativos avulsos e de mero carácter partidário e ideológico.

Para mim também é evidente que o Estado e/ou os Governos não devem cair na tentação de querer substituir as famílias e os encarregados de educação, como se os filhos fossem um objecto de luta e um troféu a obter, por todos os meios. Essa é a atitude das ditaduras, e a história está cheia de exemplos, que deram, no geral, mau resultado. Nada substitui a família, célula base da Sociedade, e a primeira função educativa é sua. A família deve, pois, mobilizar-se, organizar-se e fazer valer as suas opiniões e os seus direitos. Recordo, com alguma tristeza, o período em que fui encarregado de educação de alunos numa grande Escola, e nas reuniões dos pais e encarregados de educação, participava apenas um reduzido grupo, de reconhecido empenho e dedicação, mas, infelizmente, tão poucos...

A Sociedade e qualquer Democracia, para não cair nas mãos das oligarquias partidárias, sejam elas quais forem, deve estruturar-se de modo a garantir o surgimento de corpos intermédios, sindicatos, associações, colectividades, grupos, e outras formas de organização, para encher de vitalidade todos os sectores da sociedade. A qualidade das nossas democracias pode medir-se pelo número, vitalidade e compromisso na realidade, de grupos que lhe dão força, que também questionam, criticam e dinamizam.

É importante não esquecer, que a Democracia não se esgota nas eleições e no simples, mas essencial. acto de votar, que infelizmente tantos desperdiçam, quando outros, por esse Mundo fora, com o risco da própria vida, se empenham em conquistar, como um bem precioso e maior. Além de votar, participar e participar activamente é um direito, um dever e uma exigência.

Isto aplica-se também, logicamente, à Igreja. Igreja quer dizer Assembleia de pessoas e, uma das imagens mais felizes para a definir, é a que S. Paulo inclui no Capítulo 12 da 1ª Carta aos Coríntios: a Igreja é um corpo, com muitos membros e todos os membros são importantes, mesmo os aparentemente mais insignificantes. Sabemos pela nossa própria experiência que, quando algum membro do nosso corpo não está bem, é todo o corpo que se ressente. Que este novo Ano, para nós cristãos Ano Pastoral, seja vivido sob o signo desta imagem, que o Sínodo Diocesano tentou fortalecer e ajudar a assumir.

Que o nosso país seja também um corpo harmonioso e equilibrado, onde todos os membros cumpram a sua missão e contribuam para o bem comum, o único em que vale a pena confiar, apostar e por ele e para ele trabalhar. Na nossa Sociedade todos fazem falta, pessoas e instituições. Que os nossos jovens se sintam, por isso, cada vez mais membros activos deste corpo e não se deixem manipular por agendas, ideologias e demagogias, que não têm como objectivo o seu bem, mas os usam tantas vezes como um meio para atingir os seus objectivos.

in Ecos de Grândola, nº 306, 13 de Outubro de 2017