terça-feira, 9 de janeiro de 2018

Desenvolvimento: “do homem todo e de todos os homens”


sta frase emblemática, do papa Paulo VI, pode ser encontrada num dos mais impressionantes documentos do seu magistério: a Carta Encíclica Populorum Progressio, Desenvolvimento dos Povos, (26 de março de 1967, N.º 42).

Destas linhas lanço um desafio: quem não conhece o pensamento da Igreja sobre o desenvolvimento, aconselho vivamente a leitura desta carta. Ela está disponível em português e acessível pela Internet, como, aliás, a maior parte dos documentos do Magistério da Igreja, pois o português continua a ser uma das línguas oficiais. Há tanta desinformação e informação desfocada, quando o pensamento da Igreja é tão acessível a todos, sem necessidade de intérpretes ...

Como não pretendo substituir-me a ninguém na descoberta do documento, limito-me a comentar o título deste artigo.

Para nós, cristãos, desenvolvimento não se confunde com mero progresso económico, mas visa promover um humanismo total, que, por isso mesmo, deve abranger todas as dimensões da vida do ser humano, de modo a proporcionar-lhe um crescimento harmonioso e integral. A economia, sendo importante, não esgota, de modo nenhum e ainda bem, a vastidão e riqueza do ser humano, antes deve estar ao seu serviço. Quando se perde esta clarividência, corre-se o risco de nos tornarmos servos daquilo que deveria estar ao nosso serviço. Como diz Jesus no Evangelho: "As coisas são para as pessoas”.

Por outro lado, a Igreja entende que, nesta casa comum, o desenvolvimento não se esgota no Ocidente, nas grandes potências, ou nas potências emergentes, mas, para o ser, ele deve incluir como destinatários todos quantos formamos da grande Família Humana, em qualquer latitude ou longitude. A solidariedade é, por isso, uma virtude crucial, para não assistirmos impávidos e/ou indiferentes a diversos ritmos de desenvolvimento, ou pior ainda, ao aumento do fosso entre ricos e pobres. O verdadeiro desenvolvimento ou é humano e global, ou não merece este nome.

Pe. Manuel António Guerreiro do Rosário
in Diário do Alentejo, 05 de Janeiro de 2018