quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

Mais um Natal, ou melhor, diversos Natais



O Natal é uma época do ano especial, embora o seu sentido varie, por razões diversas, que vou tentar, sinteticamente, apresentar:

a) Para quem vive sob regimes onde não existe uma verdadeira Democracia, e são muitos milhões de pessoas, há fortes restrições ao exercício da liberdade religiosa, e, por isso, o Natal é a celebração de um “ilustre desconhecido", a que não lhes é permitido ter acesso. Nalguns casos é mesmo considerado “crime", punível com a prisão e até com a morte. A lista dos Países circula pela Internet, pelo que, deixo aos nossos leitores, se o desejarem, o trabalho de o confirmarem;

b) Há Países onde existe, mesmo que com limites, alguma liberdade religiosa, mas apenas dentro dos espaços de culto, e, para poder ser exercido este direito, é necessária a presença das Forças de Segurança, devido à possibilidade de boicotes, ou até de atentados, por parte de minorias fundamentalistas. As notícias sobre estes Países também nos vão chegando e, no geral, apenas quando não são boas;

c) Nalguns Países o Natal é uma celebração respeitada, e existe para o poder celebrar, embora para muitos o seu sentido seja apenas: a celebração da Família, a troca de prendas e a omnipresença do Pai Natal, que teima em substituir Jesus como principal protagonista. É claro que, se para alguns reina o desconhecimento, a indiferença ou até a oposição, em relação aos símbolos cristãos, mas isso é fruto de uma ausência ou abandono das raízes cristãs; há forças e grupos empenhados em banir os símbolos cristãos, para os substituir por outros. Assistimos, por isso, ao triste espectáculo de, em nome da tolerância e do respeito para com aqueles que não são cristãos, se pretenderem impedir os cristãos de celebrar publicamente a sua fé, chegando-se ao extremo da prática de actos de desrespeito e até de intolerância, em expressões mais claras ou sub-reptícias, para com os cristãos, as suas Festas e os seus símbolos;

d) Noutros Países existe liberdade religiosa e os cristãos celebram as suas Festas, realizam publicamente as suas manifestações de fé, respeitando aqueles que professam uma fé diferente, ou, simplesmente, não têm fé, e, como é evidente, devem ser respeitados.

Creio poder dizê-lo com alguma segurança, que é nos Países de tradição cristã, que se pode viver e exercer a fé, qualquer que ela seja, com plena liberdade e sem restrições. É pena que os líderes de muitos destes Países, sejam omissos para com os casos flagrantes de falta de Democracia e de restrições ao exercício da liberdade religiosa, noutros Países, colocando outros interesses, de carácter eminentemente material, acima dos direitos humanos, da liberdade em particular, e do bem das pessoas. A reciprocidade deveria ser uma exigência para que, em qualquer País deste Mundo, cada um pudesse viver plenamente e em total liberdade a sua fé, e mudar se assim o entendesse, sem quaisquer limites ou penalizações.

Para nós cristãos o direito à liberdade e à liberdade religiosa não deve ser uma concessão dos Estados, mas um direito inalienável, que deve ser respeitado, tutelado e até promovido, sem privilégios, mas também sem pressões, nem marginalizações.

Continuo a acreditar que isto é possível e, neste Tempo de Natal e Ano Novo, peço a Deus que conceda o dom da plena liberdade e da liberdade religiosa ao nosso Planeta e a toda a inteira Família Humana, para que possamos fazer aqui a experiência de que, um Mundo melhor é possível Como diz o poeta: “Deus quer, o Homem sonha, a obra acontece".

in Ecos de Grândola, nº 309, 12 de Janeiro de 2018