sexta-feira, 15 de junho de 2018

Viver e Morrer com Dignidade



A Sociedade Portuguesa vive momentos de intenso debate sobre a Eutanásia, questão sobre a qual gostaria de deixar, a minha opinião, enquanto cidadão e sacerdote.

Sem querer questionar as boas intenções dos defensores da Eutanásia, talvez fosse esclarecedor saber-se o que se passa, de forma objectiva, nalguns países europeus, que deram este passo, e as situações se multiplicaram, chegando até a crianças e jovens!!! Depois de se abrir a porta, difícil é fecha-la e, não esqueçamos que a morte é irreversível. Permitir a Eutanásia é abrir uma "caixa de Pandora", de consequências imprevisíveis.

Creio, contudo, que há uma confusão que importa esclarecer, entre Eutanásia, Distanásia e Ortotanásia. Esta é justamente a morte com dignidade, embora pouco se fale dela, querendo passar a dignidade para o campo da Eutanásia, quando esta consiste em abreviar uma vida que ainda é viável. À Distanásia também se chama Encarniçamento Terapêutico ou Obstinação Terapêutica, e esta, tal como a Eutanásia, fere a dignidade das pessoas e o direito a morrer com dignidade. Quanto à questão da dor, temos hoje cada vez mais meios de a aliviar, mesmo sabendo que esse processo pode abreviar a vida. A Eutanásia não tem a ver apenas com um ato ou omissão do próprio ou de outrem, mas também com uma vontade explícita, por parte do próprio ou de outrem.

Parece-me um contrasenso nesta fase da história da Humanidade, em que se têm vencido tantas batalhas na luta contra as doenças, criado melhores condições de vida, e prolongado a esperança média de vida, se queira agora voltar atrás e legitimar medidas para abreviar a vida. Faltam sim Cuidados Paliativos, bem como outras respostas integradas, que ajudem a criar condições para que todos sejam sujeitos de direitos e possam morrer com dignidade.

É legítimo perguntar: porque se quer voltar atrás? É porque os idosos já não produzem, ficam caros, são um peso para a sociedade? E então, as pessoas não são mais importantes do que as coisas?

Enquanto sacerdote tenho presidido a muitos funerais, alguns de pessoas de avançada idade e que chegaram até aí porque, além dos cuidados médicos, essenciais, foram amadas até ao fim "pelas suas famílias e pelas instituições que as acolheram, e esta é, na minha opinião, uma questão essencial: para se viver com dignidade é preciso ser-se amado e acompanhado, para que ninguém se sinta um peso e deseje, por isso mesmo, partir e descansar finalmente.


in Ecos de Grândola, nº 314, 08 de Junho de 2018