sexta-feira, 6 de julho de 2018

Ecologia integral


papa Francisco na Carta Encíclica Laudato Si, fiel à herança de S. Francisco de Assis e à visão cristã do mundo, desafia-nos a cultivar um olhar respeitoso e global sobre o universo e este planeta azul em que habitamos, pois, assim seremos obreiros de uma verdadeira ecologia. Esta deve ter no centro o Homem, o que não significa que este exerça sobre a criação um domínio despótico, sem regras, nem limites.

A verdadeira ecologia obriga-nos a não nos centrarmos no que se passa apenas "no nosso quintal”, a não desbaratarmos recursos e energias em questões de manifesto cariz egoísta e hedonista, e a despertarmos para os grandes dramas humanos da actualidade.

Que respostas dar aos refugiados que batem à nossa porta, movidos pela utopia de um futuro melhor, demanda tantas vezes silenciada nas águas do mar Mediterrâneo, mare nostrum?

E que pensar dos conflitos fraticidas que ensanguentam tantos países e que têm na base não apenas questões internas, mas são fomentados por interesses económicos externos, pela busca do controlo das matérias-primas e pelo monopólio da venda de armas?

E que dizer de tantos seres humanos que deambulam pelas nossas ruas e praças, transformados em autênticos farrapos humanos, pelas histórias que penosamente arrastam e que merecem menos atenção dos passantes do que os animais que os acompanham?

Para que a ecologia não descambe em ideologia é preciso não esquecer que, entre nós, seres humanos, e os demais seres criados, há diferença substancial e qualitativa. Urge, pois, diante de tanta indiferença, injustiça e desigualdade, provocar; uma autêntica reviravolta cultural, que coloque o Homem no centro da criação, naturalmente, com o devido respeito da natureza e dos demais seres vivos, pois, só quem ama e defende o ser humano poderá, na verdade, respeitar a natureza e as outras criaturas.

A verdadeira ecologia, insiste o papa Francisco, deve ser integral, e integral significa humana e humanizadora.



Pe. Manuel António Guerreiro do Rosário
in Diário do Alentejo, 06 de Julho de 2018