quarta-feira, 13 de março de 2019

Democracia e Discernimento


De um modo geral, creio que toda a gente, com bom senso, preferirá a Democracia como, pelo menos, o menos mau dos Sistemas Políticos.

A Humanidade, na sua milenar história, já passou por muitas fases, sendo governada por uma parafernália de sistemas e regimes. Muitos de nós reagiremos com firmeza contra as ditaduras, a ausência de liberdades e garantias, e os sistemas claramente opressores da pessoa. Talvez não tenhamos, contudo, a mesma capacidade de discernimento quanto a certas tendências que, capciosamente, se vão introduzindo nos sistemas democráticos, impondo as suas agendas, e gerando confusão, ao abrigo do "politicamente correto", ou pior ainda, arvorando-se nos únicos e legítimos representantes da Democracia, considerando reaccionários, "fascistas", ou conservadores, todos os que não pensam como eles.

Pergunto-me, perante tais atitudes verdadeiramente inquisitoriais, se quem assim pensa e age saberá o que é aDemocracia?

Razão tinha o Papa João Paulo II ao defender, com toda a convicção, a Democracia, ele que soube bem o que era viver sob duas ditaduras, e ao afirmar que era fundamental "melhorar a qualidade da nossa Democracia". Esta, na sua génese e objectivos, é verdadeiramente nobre, elevada, e precisa de quem a sirva e não se sirva dela, porque da qualidade dos políticos resultará a maior ou menor qualidade dos Sistemas.

O Papa Francisco tem também uma convicção, muito jesuítica, que eu também considero e valorizo, que se chama Discernimento. É preciso que todos os cidadãos procurem formar verdadeiramente a sua consciência, para poderem exercer o discernimento nas variadíssimas situações da vida em que se encontrarem envolvidos. A Sociedade e a Democracia não precisam de repetidores do que outros decidem ser bom ou mau, como se houvesse cidadãos de primeira e de segunda categorias. Não, a Democracia necessita de cidadãos ativos, protagonistas, que afirmem e defendam as suas ideias, sem se deixarem anestesiar, nem muito menos comprar.

A Democracia exige também o compromisso de uma comunicação social verídica, ética e justa, que não caia na tentação de se deixar conduzir minorias, que fazem um trabalho de sapa e que, segundo, uma agenda previamente delineada, vão fazendo crescer o "joio" dos seus projectos, mascarados de "trigo", confiados na incapacidade dos cidadãos de perceberem os seus intentos e de se oporem aos mesmos.

Não nos esqueçamos, a Democracia não se esgota do ato de votar; ela supõe e exige, a presença, o compromisso e a participação de cidadãos, instituições e associações, que não desistam de influenciar os desígnios e os rumos da Sociedade.

Como também gosta de sugestivamente dizer o Papa Francisco: não tenhamos medo de sujar as mãos no trabalho!

Coragem. Compromisso. Utopia.


in Ecos de Grândola, nº 323, 08 de Março de 2019