sexta-feira, 20 de novembro de 2020

Razões para a esperança


esperança deveria ser uma das traves-mestras da nossa vida, uma espécie de luz e suplemento que orienta e impulsiona, impedindo-nos de capitular diante das dificuldades. Para nós cristãos, ela é também virtude teologal (dom de Deus), em estreita ligação com a fé.

Se olharmos para a história, descobriremos nela o melhor e o pior do ser humano; mas não podemos deixar de acreditar nele e na sua capacidade de se arrepender, regenerar e recomeçar. Abundam os exemplos. Atrevo-me até a dizer que Deus acredita em nós, sua obra-prima, e seus filhos, em Cristo.

É verdade que nem sempre é fácil ser-se otimista e ter esperança, quando as notícias que nos envolvem não transmitem tudo o que de bom, belo e positivo sucede no mundo. Às vezes é preciso ser-se mesmo contracorrente, e procurar alternativas, descobrir a “crónica branca”, para que a esperança prevaleça sobre o joio do desespero e do pessimismo.

Nem sempre é fácil ser-se otimista e ter esperança, quando as notícias que nos envolvem não transmitem tudo o que de bom, belo e positivo sucede no mundo 

Com efeito, há notícias que não são notícia, e muitos heróis anónimos que não têm lugar nas capas das revistas, nem na abertura dos telejornais, mas cujo testemunho discreto, paulatinamente, tem aberto sulcos profundos de humanidade e amor. Nós cristãos, recordamos estes heróis no Dia de Todos os Santos, em cujo catálogo se encontrarão, decerto, familiares nossos.

Estes heróis, que são um sinal visível de que só se é feliz quando se dá e se serve o próximo, deveriam sair do anonimato e ser conhecidos, sobretudo, pelas novas gerações, para que descubram neles modelos de genuína humanidade e solidariedade, e releguem para detrás da ribalta, para um mero papel secundário, o ter, o poder e o parecer.

Além destes testemunhos, é preciso também lançar a boa semente que dá pelo nome de “valores”, os quais devem ser assumidos e transmitidos na educação, pois “não se pode amar o que não se conhece”. Eles são verdadeiro antídoto contra o egoísmo, o individualismo e a autocomplacência.

Por mim, acredito que há razões para a esperança!

Pe. Manuel António Guerreiro do Rosário
in Diário do Alentejo, 20 de Novembro de 2020


segunda-feira, 12 de outubro de 2020

sexta-feira, 9 de outubro de 2020

Proteger os mais fracos



 humanidade vive tempos paradoxais. Com efeito, nunca como hoje soubemos tanto sobre o Homem: a sua saúde, doenças e tratamentos; os perigos que o assolam; a prevenção do futuro e a inversão das previsões… Contudo, em contraponto, as ameaças à sua existência são também impressionantes: aborto e infanticídio; eutanásia e pena de morte; fome e pobreza endémica; discriminação, escravatura e genocídios; poluição, desflorestação em massa e mudanças climatéricas; proliferação do comércio de armas e guerras infindáveis; tráfico de seres humanos e de estupefacientes… A lista de atentados é descomunal.

De todos estes sinais preocupantes, emerge para mim uma prioridade, que dá título a este artigo: a proteção dos mais fracos.

Com efeito, uma sociedade verdadeiramente humana, solidária e democrática deve primar pela defesa da igualdade entre todos os seres humanos, da sua dignidade e direitos, promovendo, por isso, uma cultura que combata desigualdades, proteja os mais fracos, aqueles que por si sós não têm capacidade de se defenderem, para que prevaleçam, os princípios que estão na base do autêntico estado de direito e não “a lei do mais forte”. Parafraseando o Papa Paulo VI, é imperioso defender “o Homem todo e todo o Homem”, para que não aumente o fosso entre ricos e pobres; primeiro, terceiro e quarto mundos; novos e idosos; trabalhadores ativos e aposentados. O Homem não vale pelo que tem, mas, sobretudo, pelo que é, independentemente da raça, sexo, cultura, cor da pele ou religião.

Creio que este foi um dos principais valores que Cristo e o cristianismo legaram à humanidade: a afirmação da igualdade essencial entre todos os seres humanos e, entre estes, Cristo manifestou sempre uma predileção pelos mais pobres, frágeis e marginalizados. Desejo e espero que a Igreja, fiel a Cristo, continue nesta senda, e que a sua missão seja sempre pautada pelo serviço à humanidade, difundindo a misericórdia e globalizando a solidariedade, sem proselitismo.

Pe. Manuel António Guerreiro do Rosário
in Diário do Alentejo, 09 de Outubro de 2020


quinta-feira, 8 de outubro de 2020

A propósito da queda do Muro de Berlim


A queda do Muro de Berlim há 31 anos, além do significado real que teve enquanto mudança efectiva do xadrez político, social, económico e religioso na Europa, teve repercussões em todo o Mundo.

Recordo-me que, perante as transformações que se sucederam em catadupa e ritmo alucinante, me ter vindo à memória uma frase verdadeiramente clarividente e profética de Santo Agostinho, quando >o Império Romano se desmoronava e os Bárbaros escalavam muros da Cidade de Hipona: "Não é o Mundo que acaba, é um velho Mundo que acaba e um novo Mundo que começa."

O Mundo, de facto, mudou, mas continuam a existir outros muros, alguns físicos e outros simbólicos, mas nem por isso menos reais e desafiantes. Dos muros físicos, recordo entre outros, os muros entre: Estados Unidos e México; as duas Coreias; Israel e os Territórios da Autoridade Palestiniana; os elevados por alguns países da Europa para controlarem e impedirem a entrada de refugiados, etc.

Há, contudo outros muros, de que nem sempre se fala e que continuam a dividir a Humanidade e a ser fonte de sofrimentos atrozes:

1. As desigualdades, que afastam e fazem crescer o fosso entre habitantes do primeiro, terceiro e quarto Mundos;

2.O pragmatismo utilitarista, que tende a considerar as pessoas pelo que têm e produzem, impondo uma cultura e mentalidade do "descarte", como lhe chama o Papa Francisco, e qu afecta, em especial, os que não se podem defender, nem têm capacidade de se manifestar

3.Os lóbis, que, pela força do dinheiro e dos jogos de influências, vão impondo paulatinamente uma revolução cultural, assessorada por uma mentalidade prepotente, que não respeita a diversidade e menospreza quem pensa de forma diferente;

4.O "vale tudo", no qual, os"fins justificam os meios" e o "Ego" é senhor absoluto, uma vez que a objectividade (para eles) não conta, nem interessa, porque a verdade e os valores autênticos são um obstáculo real ao "pensamento líquido" actual, como tantas vezes nos recorda o Papa Francisco;

5.O culto da imagem e das aparências, que, aproveitando a poderosa máquina do Marketing, promove uma dicotomia, consciente, entre a verdade da pessoa e aquilo que dela é transmitido e que passa a ser a verdade inquestionável;

6.O hedonismo, que nos retira a capacidade de enfrentar e de crescer com elas, e gera uma busca desenfreada do prazer, como se mais nada importasse, arrastando consigo a "coisificação do outro";

7.O individualismo, que endurece o nosso coração "ao outro e aos outros", e nos torna insensíveis e desconfiados, insolidários e interesseiros, contrariando aquele pensamento clássico, segundo o qual, "o ser humano não é uma ilha";

8. O "reinado" das ditaduras, que continuam a governar mais de 50% da Humanidade, e que privam de liberdade e do exercício de alguns direitos fundamentais os cidadãos e, entre estes direitos, inclui-se o direito à liberdade religiosa, cujas limitações afectam milhões de humanos;

9. A impunidade dos "senhores da guerra", para quem a vida não vale nada, pelo que, o controlo de matérias-primas e de zonas estratégicas justifica tudo: fome, genocídios, destruição de estruturas vitais, violências e violações, etc;

10.O fenómeno da insensibilidade e indiferença, que parecem crescer, apesar de hoje, pela panóplia de meios de comunicação e de redes sociais, estarmos mais capacitados para nos conhecermos melhor e apetrechados para sermos mais solidários.

O universo dos muros não termina aqui. Convido, pois, os nossos leitores a fazerem o mesmo exercício que eu fiz e, decerto, ficarão surpreendidos. A queda do Muro de Berlim e as transformações ocorridas, enriqueceram o nosso léxico com dois termos russos: Perestroika (Restruturação) e Glasnost (Transparência). Creio que, face à existência de tantos muros que teimosamente persistem em resistir à mudança, estes termos continuam bem actuais e necessários.

Que a Igreja não fique insensível à mudança e à renovação, mas que estas aconteçam por disponibilidade e fidelidade à acção do Espírito Santo, e não por arrastamento dos acontecimentos, como tantas vezes tem acontecido.

Que a Igreja presente nestas Terras Transtaganas também não se esqueça que "só a verdade liberta", pelo que, ser comunidade que na verdade e na caridade vive e testemunha o Evangelho, é a via que devemos trilhar.


Pe. Manuel António Guerreiro do Rosário



sexta-feira, 11 de setembro de 2020

Ser ou Parecer?



Durante a Quaresma, quando escutamos o Evangelho das Tentações de Jesus, há três palavras fortes, precisas e claras, que as resumem e de que, com frequência, me recordo: Ter, Poder e Parecer.

Hoje, gostaria de me centrar na tentação do Parecer; a que também podemos chamar: Aparência. Creio que esta tentação, como todas as tentações, bate à nossa porta, com muitos nomes e heterónimos, e sob muitas formas. A resposta que lhe damos, pode fazer toda a diferença: Podemos enfrentá-la e vencê-la, e viver numa perfeita comunhão entre o que somos e a imagem que transmitimos; podemos ceder; e às vezes, “fazer-lhe a vontade” e viver com alguma intermitência; ou, por fim, podemos baixar a guarda, render-nos e fazer desta cedência um "modus vivendi”.

Mesmo nesta última atitude, é evidente que ninguém gosta de aparecer aos olhos da opinião pública, vestido na pele de mentiroso, desonesto, injusto, ou qualquer outra qualificação pejorativa. Basta estarmos atentos ao que se passa entre nós (não vale a pena dar exemplos), para percebermos que, mesmo com provas evidentes e factos comprovados, há quem persista em defender "com unhas e dentes” a sua honestidade inquestionável, esgrimindo em modo de contra-ataque, a ameaça com um processo por difamação, a apelação a uma instância superior, ou outro argumento.

Sei que este tema é complexo e soluções simplistas nada resolvem; porém, permitam-me os nossos leitores uma simples sugestão. Há muitos anos, recordo-me de ter visto um filme, que relatava a história de um condenado à morte, nos Estados Unidos, que sempre negara a sua culpabilidade num crime de homicídio, até encontrar uma frase do Apóstolo e Evangelista S. João, que tudo mudou: "só a verdade liberta.

Não é fácil assumir os erros e as suas consequências, mas, se não queremos passar a vida a fingir que somos o que não somos, ou vice­versa, esta pode bem ser uma solução benéfica e salutar, com consequências múltiplas em todas as dimensões da nossa vida, incluindo a nossa relação com os outros. Além do mais, é impossível viver perenemente em dicotomia e representar dois papéis no teatro da vida, e, por outro lado, é tão fácil resvalar para onde não se quer e ser-se "apanhado" em flagrante!

Talvez muitos de nós conheçamos histórias de pessoas que mentem e acreditam nas suas mentiras, que passam facilmente a verdades assumidas e indiscutíveis. Abundam também as histórias de gente que passou a vida a mentir e quando quiseram dizer a verdade, ninguém acreditou neles.

Enfim, para além dos casos mais complicados, que necessitam de acompanhamento especializado, creio que a "receita" que S. João nos propõe, pode ser-nos de grande utilidade e ajudar-nos a ter noites mais tranquilas, uma vida mais autêntica, e a sermos também mais humildes, porque, afinal, errar é próprio dos humanos, mas permanecer no erro e não querer mudar diante da verdade, é pouco humano e não contribui para dignificar quem assim se comporta.

A esperança, contudo, é uma virtude que nos pode conduzir e iluminar e ela diz-nos que é sempre tempo de mudar e de recompor, pelo menos, o que for possível. Vale a pena!

in Ecos de Grândola, nº 341, 11 de Setembro de 2020



sexta-feira, 28 de agosto de 2020

A força da verdade


Concílio Vaticano II (1962-1965) continua a ser um manancial inesgotável de renovação da Igreja e um acontecimento incontornável na sua relação com o mundo. Não vou, contudo, deambular pelo concílio, tarefa impossível nestas poucas linhas, mas centrar-me, apenas, no nº 1 da Declaração sobre a Liberdade Religiosa ‘Dignitatis Humanae’:

“A verdade não se impõe de outro modo, senão pela sua própria força”.

Esta mensagem não é fácil de aceitar, especialmente nos tempos que correm, nos quais, o exacerbar do subjetivismo, colocou a tónica no sujeito e na sua consciência, omitindo ou desvalorizando a objetividade. Com efeito, corre-se o risco de se deixar de falar em verdade, para reduzir tudo à minha verdade, que consiste naquilo que eu penso, afirmo e argumento, com os meios que tiver ao meu dispor. O eu torna-se, assim, o único critério para aferir a verdade e a mentira, o certo e o errado.

Já o afirmei anteriormente: a subjetividade é valor inquestionável; o subjetivismo um pântano, onde tudo cabe! Até a mentira, mascarada de verdade, adquire foros de cidadania. E que dizer, quando se retira uma frase do contexto, ou quando se altera a pontuação? O seu sentido pode ser completamente adulterado.

E mais não digo, porque os exemplos não cessariam. Já não entro sequer nas questões de caráter patológico, que exigem um conhecimento e acompanhamento específicos.

A ausência de referências objetivas, que funcionem como critérios orientadores, pode mesmo fazer perigar a nossa convivência enquanto sociedade, questionando aquilo a que se convencionou chamar “os mínimos éticos”.

Na nossa formação pessoal, deveria, por isso, estar incluída a educação para o respeito do outro, para a fidelidade, para o sentido crítico, para o discernimento, pois, só assumindo o erro (e errar é humano), se pode mudar.

Às vezes tenho saudades do tempo em que a palavra bastava para selar e garantir um compromisso, mesmo sem nada escrito, nem testemunhas. Apesar de tudo, continuo a acreditar na sabedoria daquele adágio popular: “A verdade é como o azeite; vem sempre ao de cima” (mesmo que tarde).

Pe. Manuel António Guerreiro do Rosário
in Diário do Alentejo, 28 de Agosto de 2020



quarta-feira, 22 de julho de 2020

Intervenção na Casa do Ermitão Viso


Iniciámos esta semana uma intervenção na Casa do Ermitão, na Capela do Viso, para a substituição do telhado, que já apresentava sérios problemas, devido à degradação das telhas e madeiras.

Esta intervenção, da responsabilidade da Paróquia, está a ser possível graças ao apoio da Câmara Municipal de Grândola e da Junta de Freguesia de Azinheira dos Barros.

Contamos com o apoio de todas as forças vivas locais, em especial, das Comissões de Festas de Azinheira dos Barros e do Viso e da Associação Os Amigos da Azinheira dos Barros.

Estas instalações além de estarem ao serviço das festas que todos os anos decorrem neste espaço privilegiado, têm estado também ao serviço da comunidade, acolhendo diversos tipos de actividades e servindo de apoio na prevenção e combate a incêndios.




sexta-feira, 17 de julho de 2020

Regras: de Ouro e de Prata




in Ecos de Grândola, nº 339, 10 de Julho de 2020



Todas as vidas importam!



O recente episódio de 
violência policial nos Estados Unidos, que tem gerado uma onda de manifestações por todo o mundo, desafiou-me a regressar ao tema da vida humana.

A igualdade essencial de todos os seres humanos, deveria ser um dado indiscutível e universalmente assumido; contudo, por este acontecimento e por uma infindável cadeia de outros, ele é desmentido todos os dias, em Portugal e no mundo.

Os exemplos são tantos, que poderiam dar origem a muitos livros, de conteúdo inesgotável. Olhemos para a nossa “casa comum” e encontraremos um corrupio de situações que confirmam o que acabo de afirmar: o gravíssimo problema de dezenas de milhões de refugiados, que, em fluxos inestancáveis, partem em demanda de um futuro melhor; as doenças que continuam a ceifar anualmente milhares de vidas humanas nos continentes mais fragilizados; as guerras que sem serem notícia, como as do Iémen, Síria, Chade, República Centro Africana, Moçambique ou Ucrânia, continuam impiedosa e sistematicamente a ceifar vidas humanas, destruindo a esperança, alargando o fosso entre ricos e pobres, espezinhando a vida humana tratada como material descartável, como nos recorda o Papa Francisco. Se olharmos para o nosso País, como ficar insensível perante o aumento do número de pobres, segundo os parâmetros definidos pela UE e por outras instâncias internacionais?

Urge, pois, estarmos mais atentos e sermos mais consequentes, trabalhando para instaurar uma autêntica cultura humanista, que não seja mera questão de retórica, moda, ou oportunismo, mas sim o sinal indiscutível de uma verdadeira preocupação pelo outro, que é igual a mim, que tem a mesma dignidade que eu tenho e deve ser defendido, se não for capaz de o fazer por si próprio. O Homem, cada Homem e todo o Homem, deve ser o centro, sempre um fim em si próprio e nunca meio, com uma dignidade reconhecida universalmente, que não depende da raça, da cor da pele, do sexo ou da religião.

Cada vida, todas as vidas importam.

Pe. Manuel António Guerreiro do Rosário
in Diário do Alentejo, 17 de Julho de 2020



sábado, 4 de julho de 2020

Tríduo preparatório das Celebrações dos 250 anos da Restauração da Diocese


A Diocese de Beja, restaurada em 10 de Junho de 1770, está a celebrar os 250 anos desta mesma Restauração, que terá o seu ponto alto no próximo dia 10 de Julho de 2020. É proposto a que nas Comunidades onde for possível, celebremos um Tríduo. A proposta para a Paróquia de Grândola e vizinhas é a seguinte:

Dia 07 (3ª feira), 21h – Celebração da Palavra

Dia 08 (4ª feira), 21h – Adoração ao Santíssimo Sacramento

Dia 09 (5ª feira), 21h – Celebração Penitencial

Dia 10 – Missa às 9h. A partir das 10h reúne em Beja o Conselho Presbiteral. Pelas 17.30h, na Sé, Missa Crismal.



quinta-feira, 2 de julho de 2020

A Estrutura Humana do Pastor



“Sem uma oportuna formação humana, toda a formação sacerdotal ficaria privada do seu necessário fundamento.” Assim começa o nº 43 da Exortação Apostólica Pastores Dabo Vobis, (PDV, 1992) do Santo Padre João Paulo II, sobre a formação dos Sacerdotes nas circunstâncias actuais.

Com efeito, a sabedoria milenar da Igreja levou-a a não desvalorizar a componente humana da formação dos candidatos ao Presbiterado, pois só assim poderão ser verdadeiros pastores, à imagem do Bom Pastor.

Recuemos, por breves instantes, ao Concílio Vaticano II (1962-1965), e fixemo-nos em dois dos seus documentos: o Decreto Optatam Totius (OT), sobre a Formação Sacerdotal, e o Decreto Presbyterorum Ordinis (PO), sobre o Ministério e a Vida dos resbíteros. Quanto ao OT, merece especial atenção, o nº 11. Escutemo-lo: “(…) Por meio duma formação bem ordenada, cultive-se também nos alunos a devida maturidade humana (…) (…) aprendam a estimar aquelas virtudes que são tidas em maior conta diante dos homens e recomendam o ministro de Cristo, como são a sinceridade, a preocupação constante da justiça, a fidelidade às promessas, a urbanidade no trato, a modéstia e caridade no falar.”

O Decreto PO, no nº 3 dá-nos também indicações preciosas: “Os presbíteros, tirados dentre os homens e constituídos a favor dos homens nas coisas que se referem a Deus, (…) Não poderiam ser ministros de Cristo se não fossem testemunhas e dispensadores duma vida diferente da terrena, e nem poderiam servir os homens se permanecessem alheios à sua A Estrutura Humana do Pastor vida e às suas situações. O seu próprio ministério exige, (…) que vivam neste mundo entre os homens e, como bons pastores, conheçam as suas ovelhas (…)

Para o conseguirem, muito importam as virtudes que justamente se apreciam no convívio humano, como são a bondade, a sinceridade, a fortaleza de alma e a constância, o cuidado assíduo da justiça, a delicadeza (…). Vale a pena reler também o Directório para o Ministério e a Vida dos Presbíteros, da Congregação para o Clero (1994), nomeadamente o Capítulo III, que tem como tema a Formação Permanente, e no qual, a formação humana merece alguma centralidade.

Pela sua importância, porém, proponho que voltemos à Exortação PDV. O nº 43, com o qual iniciei este texto, aprofunda ainda a afirmação do início, insistindo em que o pastor, ao ser “chamado a ser “imagem viva de Jesus Cristo Cabeça e Pastor da Igreja, ele deve procurar reflectir em si mesmo, (…) aquela perfeição humana que resplandece no Filho de Deus feito homem e que transparece com particular eficácia nas suas atitudes com os outros (…).” O pastor deve ser, por isso, ser “ponte e não obstáculo para os outros, no encontro com Jesus Cristo Redentor do homem.”

Ainda o mesmo nº 43, reforça a convicção de que importa “cultivar uma série de qualidades humanas necessárias à construção de personalidades equilibradas, fortes e livres (…). É precisa, pois, a educação para o amor à verdade, a lealdade, o respeito por cada pessoa, o sentido da justiça, a fidelidade à palavra dada, a verdadeira compaixão, a coerência, e, particularmente, para o equilíbrio de juízos e comportamentos.” É também muito importante “a capacidade de relacionamento com os outros, elemento verdadeiramente essencial para quem é chamado a ser responsável por uma comunidade e a ser “homem de comunhão”. Isto exige que o sacerdote não seja arrogante nem briguento mas afável, hospitaleiro, sincero nas palavras e no coração, prudente e discreto, generoso e disponível para o serviço, capaz de oferecer pessoalmente e de suscitar em todos relações francas e fraternas, pronto a compreender, perdoar e consolar (cf. também 1 Tim 3, 1-5; Tit 1, 7-9)”.

O nº 44 centra a sua preocupação na “maturidade afectiva”, a qual supõe “a consciência do lugar central do amor na existência humana. (…) Para a compreensão e realização desta, torna-se urgente “uma educação para a sexualidade (…)” Isto supõe, continua o nº 44, “uma formação clara e sólida para a liberdade”, de modo que a pessoa “seja verdadeiramente dona de si mesma, decidida a combater e a superar as diversas formas de egoísmo e de individualismo, que atacam a vida de cada um, pronta a abrir-se aos outros, generosa na dedicação e no serviço do próximo.” Ligada com esta formação para “a liberdade responsável, está a educação da consciência moral.”

Como já vai longo este artigo, convido os nossos leitores a que, se o desejarem, leiam os Documentos citados, rezem por nós e nos ajudem a sermos melhores pastores, para bem da Igreja e do Mundo.

Pe. Manuel António Guerreiro do Rosário



segunda-feira, 15 de junho de 2020

sábado, 13 de junho de 2020

Livros históricos




O acervo bibliográfico histórico da nossa Paróquia foi enriquecido com mais um conjunto de livros, de grande valor, que enviámos para serem tratados num atelier da especialidade. Devidamente acomodamos, em caixas acid-free, aqui estão eles.

Muito obrigado!

Francisco Molho



sexta-feira, 29 de maio de 2020

Reinício das Missas Presenciais em Grândola




Sábado, dia 30, 21h: VIGÍLIA DE PENTECOSTES;

Domingo, dia 31, DIA DE PENTECOSTES: Missas: 9.30h, 11.30h e 18h. 

Missa no lousal às 16h.

domingo, 24 de maio de 2020

Quanto vale a vida humana?



quase um lugar-comum afirmar que “o importante são as pessoas”, não os números. Mas, será assim tão óbvio e universalmente indiscutível? Quanto vale a vida humana?

Esta é a pergunta que me tem acompanhado, num tempo em que a pandemia é tema omnipresente, e onde, não raro, as preocupações de caráter económico emergem como prioridade, relegando a vida humana para um humilhante papel secundário.

A minha perplexidade aumentou ao assistir às declarações de pessoas com responsabilidades governativas, arrogando-se o direito de previamente decidir quem everia ser protegido ou abandonado, como se fossem os donos deste mundo e tivessem nas suas mãos o destino dos outros, condenando, assim, a uma morte ignominiosa, enquanto “material descartável”, os que não se podem defender. 

Não estaremos diante de um “déjà vu”, de roupagem democrática e poderoso marketing, para nos reeducar e fazer pensar  todos da mesma forma: materialista, pragmática e indiferente ao próximo? Não será esta uma nova estirpe de darwinismo social encapotado, que nos vai conduzindo, eufemisticamente, ao espírito daquela ideologia que a ONU quis recordar, para que nunca mais se repetisse, ao fixar a data de 27 de janeiro como Dia Internacional do Holocausto?

Na verdade, preocupam-me estes sinais de insolidariedade para com a vida e o sofrimento humanos, que ameaçam encaminhar perigosamente a Humanidade para o infelizmente célebre aforismo: “o homem é o lobo do outro homem”. Por esta via multiplicar-se-ão os populismos, os niilismos, as ideologias xenófobas, os movimentos anárquicos, etc.

O reforço das democracias exigirá, pois, como resposta, o fortalecimento dos autênticos valores que encarnem a defesa da vida, da dignidade e dos direitos de todos os cidadãos, sobretudo, dos mais frágeis e marginalizados.

Conforta-me, ainda, a esperança, a humana e a cristã, que continua a ser bússola e leme para tantos homens e mulheres, e, em especial, para um crescente número de jovens, que olham para o outro, não como adversário ou inimigo, mas como irmão, igual a mim, a quem devo respeitar e amar.

Pe. Manuel António Guerreiro do Rosário
in Diário do Alentejo, 22 de Maio de 2020



domingo, 17 de maio de 2020

Tirar conclusões, inverter opções



in Ecos de Grândola, nº 337, 08 de Maio de 2020



A nossa vida é uma lenda



in Ecos de Grândola, nº 336, 10 de Abril de 2020



Ser ou Ter?



in Ecos de Grândola, nº 335, 13 de Março de 2020



Ano novo, vida nova?



in Ecos de Grândola, nº 334, 14 de Fevereiro de 2020



Concerto de Natal na Igreja de Santa Margarida da Serra



in Ecos de Grândola, nº 334, 14 de Fevereiro de 2020



Concerto de Natal em Melides



in Ecos de Grândola, nº 334, 14 de Fevereiro de 2020



Vede como eles se amam!





Descobrir e centrar-se no essencial





sexta-feira, 1 de maio de 2020

A humildade é a verdade


estes conturbados, complexos e desconcertantes tempos que a Humanidade atravessa, tem-me ocorrido uma frase de Santa Teresa de Ávila, carmelita espanhola, doutora e reformadora da Igreja, (Século XVI): “a humildade é a verdade”.

Como cristão sei que é verdade pois a fé torna-nos mais conscientes das nossas falhas, limitações e pecados: na relação com os outros, nossos irmãos; com este planeta, nossa “casa comum”; e com Deus, que em Jesus, o filho de Deus, nos adotou como filhos.

Ao olhar retrospetivamente para a História da humanidade, a ausência desta virtude bem pode incluir-se entre as causas de muitos males que nos têm afligido: guerras, doenças, mortes, injustiças. Sem humildade a “porta” fica facilmente aberta para o orgulho desenfreado; o egoísmo e individualismo atroz; a ânsia de poder e domínio despótico; o lucro desmedido; no fundo, a pretensão de ser deus e de tudo dispor a seu bel-prazer.

Estes males não são exclusivos da sociedade, a própria Igreja também tem incorrido neles, como o reconheceram os papas João Paulo II e, sobretudo, Francisco.

Perante as consequências da atual pandemia, a humildade pode também ser chave de leitura: das transformações que tivemos imperiosamente de introduzir na nossa vida; das alterações do modelo económico, com reflexos imediatos no equilíbrio ecológico; do despontar da solidariedade, que cresceu, se consolidou e globalizou, em gestos de consequências transversais.

Parafraseando Martin Luther King, eu também “tenho um sonho” para a humanidade, vencida esta crise pandémica: que o outro seja respeitado como pessoa igual a mim, fim em si próprio, não meio, nem mera matéria de descarte; que o desenvolvimento não se reduza a crescimento económico, cego e injusto, feito à custa do Homem; que desperte uma verdadeira ecologia, humana
e integral, que nos faça descobrir que somos uma única família humana.

Diz o poeta: “Deus quer, o homem sonha, a obra nasce”.

Mãos à obra.

Pe. Manuel António Guerreiro do Rosário
in Diário do Alentejo, 01 de Maio de 2020