sexta-feira, 12 de outubro de 2012

O regresso às aulas, algumas questões

O início de um novo Ano Escolar marca o ritmo de qualquer país, o nosso incluído, isto apesar das nuvens que se levantam no horizonte e que afectam impreterivelmente pais, alunos, professores, no fundo, toda a sociedade. A educação é precisamente um desses sectores nucleares que, pela sua importância estratégica no delinear do futuro de qualquer país, mereceria um acordo transversal entre todas as forças políticas, e a inteira comunidade educativa, de modo a que as opções feitas ou a fazer não se limitassem a agradar apenas a uma parte da população, nem se restringissem a um mero ciclo eleitoral conjuntural. O que está em causa é demasiado importante para se cair em facilitismos, populismos ou demagogia.

Há, contudo, duas questões que gostaria de aflorar neste breve texto e que me parecem pouco referidas e ainda menos reflectidas.

É uma evidência que há cada vez menos alunos nas nossas Escolas, Politécnicos, Universidades, e isto tem consequências no imediato, mas com tendência a agudizar-se nos próximos anos e décadas. Mas porquê? Para além de outras questões em que não entrarei, há uma que não tem sido devidamente equacionada: a quebra da taxa de natalidade! Com um crescimento negativo, como acontece há décadas em Portugal, não há escola que resista, ou melhor, não há sociedade que resista. Será que quem governa, governou e/ou governará, está verdadeiramente consciente desse facto? Que medidas têm sido tomadas para inverter esta situação? Não estaremos diante duma hecatombe demográfica do Continente Europeu e de Portugal, perante uma capa de silêncio e cumplicidade?

Os estudos e as previsões são claras, basta querer ver e perceber que, apesar de tudo, ainda é possível inverter esta situação, embora sejam necessárias medidas urgentes e mais algumas décadas, porque o problema não é de hoje e não é de fácil solução. Mas quem deverá dar o primeiro passo: o Estado ou as Famílias? Umas vezes parece que a mentalidade que nos envolve é contrária à vida, outras vezes parece que as famílias desejam ter filhos, mas capitulam perante as dificuldades que o Estado cria e que tornam quase impossível a paternidade. Quem deverá iniciar a mudança e inverter esta lógica sem futuro?

A Igreja, como é óbvio, procura dar o seu contributo e é sabido que na sua doutrina se incentivam os casais a acolherem o dom da vida de forma generosa e responsável, na certeza de que cada filho é um dom que se deve agradecer, e todas as vidas são uma riqueza inestimável que se deve acolher e amar.

Uma outra questão que nos deveria preocupar a todos, e a mim deixa-me particularmente preocupado, é a desertificação do Interior do país, que se reflecte também nas opções que são feitas a nível da educação. Retirar do Interior tudo aquilo que é sinal de vida e de esperança, e a Escola é um desses sinais, é condenar ao deserto e à morte inegável uma parte significativa do nosso Portugal. Qual será o panorama do nosso país se se continuarem a esvaziar os nossos Montes, Aldeias, Vilas e Cidades mais pequenas? Será que não basta já de sangria? Não será tempo de olhar para os processos de inversão já em curso noutros países europeus, com resultados francamente animadores?

No início de mais um Ano Escolar aqui deixo as preocupações de alguém que acredita que o futuro de qualquer país depende da aposta que se faz na Educação e, a Educação, são fundamentalmente pessoas, não números!

Para quem é cristão a mensagem de Cristo não deixa margem para dúvidas: a pessoa deve ser o centro de tudo!
Padre Manuel António Guerreiro do Rosário
in Ecos de Grândola, nº 246, 12 de Outubro de 2012