sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Sinais de Esperança


O bem e a verdade têm uma força intrínseca que se impõe por si própria, pelo que, deveria ser universalmente reconhecida como tal, independentemente da proveniência das suas manifestações.

Apesar do peso da crise, que praticamente tem batido a todas as portas, embora com diferentes intensidades, e dos cenários mais obscuros traçados para o nosso país, este Verão tem também sido bafejado com sinais de uma ligeira brisa, quiçá bonança, originada por notícias que nos parecem querer animar e aligeirar o nevoeiro que se tem avolumado quanto ao nosso futuro colectivo. A confirmarem-se estas notícias, deveríamos alegrar-nos e empenhar-nos transversalmente num esforço colectivo de debelar a crise e de abrir horizontes de renovação e de esperança.

Porque o bem e a verdade não dependem apenas da nossa subjectividade, mas têm de igual modo fundamento na realidade e objectividade, creio que importa, sem preconceitos nem demagogias ou interesses corporativos, dar as mãos, construir consensos alargados e procurar fazer opções em ordem ao bem comum, de modo que ninguém fique de fora, sobretudo os mais fragilizados e os que não têm capacidade de fazer valer os seus direitos. As vitórias devem reconhecidas por todos e as derrotas assumidas com humildade, espírito construtivo e vontade de encontrar alternativas.

O actual momento da nossa vida nacional exige, assim, atitudes novas de todos, nomeadamente dos políticos, que devem acima de tudo trabalhar em ordem ao bem comum e a um projecto de desenvolvimento humano e humanizador. Quem não estiver animado do desejo de servir a causa pública e as pessoas, não deverá avançar, sob pena de contribuir para o desvirtuamento da actividade política, nobre na sua essência, para o seu inexorável esvaziamento, e para o consequente aumento do fosso entre eleitores e eleitos.

O carreirismo, seja ele político, eclesiástico, ou de outro âmbito, é um cancro que mina e destrói tudo onde se instala, na medida em que retira a liberdade, a capacidade de discernimento, o bom senso e o sentido da verdade e da justiça. A actual crise, dizia, por isso, o Papa Bento XVI, não é apenas económica nem financeira, mas é, antes de mais, uma crise de valores, de princípios, e tem as suas raízes também em questões de âmbito antropológico.

O Papa Francisco na sua recente viagem ao Brasil para participar na Jornada Mundial dos Jovens, instou-os a não serem conformistas, mas antes a terem a capacidade, a audácia, de não perderem os ideais e de serem lutadores, mesmo contracorrente, por um mundo melhor e mais justo, no qual os valores sejam reabilitados, os princípios norteiem a nossa vida, e a esperança nunca desapareça do nosso imaginário colectivo. O Papa e a Igreja acreditam que os jovens, se quiserem, são capazes de ser diferentes e melhores, se se empenharem, sem complexos, nem facilitismos, em projectos reais de mudança e transformação da sociedade e das pessoas; a mudança das estruturas virá depois.

Esta palavra também não pode deixar de nos interpelar a nós cristãos, fazendo-nos sentir que não somos os únicos a ter o monopólio do bem, da verdade e da justiça, e que, pela força que dimana do Evangelho, somos antes convidados a comprometer-nos e a darmos o nosso melhor neste mundo que é o nosso, sem proselitismos nem complexos de superioridade ou inferioridade, antes servindo humildemente, como Jesus.

Pe. Manuel António Guerreiro do Rosário
in Ecos de Grândola, nº 257, 13 de Setembro de 2013