sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Guerra ou Paz?


A guerra é urna realidade que, desde sempre e infelizmente, nos tem acompanhado a nós seres humanos. Têm sido imensos os conflitos bélicos e variadíssimas as suas expressões, mas, decerto, não poderemos esquecer as duas últimas guerras mundiais, nomeadamente a segunda, pelas razões que a provocaram, pela ideologia que lhe esteve subjacente, e pelas marcas profundas que ainda hoje perduram na memória, na alma e na vida de tantos povos e territórios. Esta recordação deve impulsionar-nos a dizer: não! Nunca mais!

Depois da Queda do Muro de Berlim e das mudanças que se lhe sucederam em catadupa, parecia que iríamos entrar numa nova fase de paz, estabilidade e desenvolvimento, mas eis que surgiram múltiplos focos de instabilidade e conflitualidade, em pequena e média escala, em diferentes pontos do globo terrestre. A globalização, com tudo o que tem de positivo, também dotou de novas capacidades os potenciais geradores de conflitos, que também se globalizaram.

Poder-nos-emos perguntar: mas terá de ser sempre assim? Não será possível imaginarmos um Mundo sem conflitos, onde os problemas se resolvam à volta da mesa, pelo diálogo, pela frontalidade e pela verdade, sem recurso à violência e à guerra?

Eu creio que sim e muitos pensarão corno eu, a maioria, acredito. Há, contudo, outros que pensam de forma diferente, têm outros interesses e "outros valores" e impõem as suas "razões". De facto, para muitos a vida humana vale bem pouco e nem todas as vidas valem o mesmo, pelo que, afirmam, é melhor que morram cidadãos do país X e não do país Y. Outros pensam que os fins justificam os meios e outros ainda consideram que as "coisas" são mais importantes que as pessoas.

Corno pessoa e corno cristão não poderia estar mais em desacordo. A vida humana é um valor que vale por si próprio, não em função de algo, e é um valor maior que importa defender, tutelar e promover. Está acima das coisas, quaisquer que elas sejam, e cada vida é sempre um projecto único e irrepetível, e está dotada de igual dignidade, porque só há cidadãos de primeira categoria. Cristo não discriminou ninguém e sempre fez questão de afirmar que todas as vidas valem a pena, que Ele veio para todos, sobretudo para os mais distantes e necessitados.

Por todas estas simples razões e por muitas mais, não tenho dúvidas em afirmar que a guerra é sempre um mal, nela todos perdem, mesmo os vencedores, e as suas sequelas podem perdurar anos, décadas ou séculos.

Para além dos passos que devem ser dados na resolução de conflitos que persistem teimosamente, concomitantemente também é necessário olharmos para dentro de nós próprios e tentarmos perceber onde e porque nascem os sentimentos negativos que se alojam no nosso coração, influenciam e destroem. A guerra, com efeito, começa dentro de cada um e se não actuarmos e não vencermos o que nos dilacera e destrói, dificilmente travaremos este ciclo vicioso.

Apesar de tudo, continuo a acreditar que o ser humano é capaz de encontrar formas de superação e de solução sem recorrer à guerra. Acredito, como diz a Bíblia, no Antigo Testamento, que "das espadas farão relhas de arado e das lanças forjarão foices" (Cf. Isaías, 2, 4)

Depende de mim e de cada um de nós que estamos convencidos da força da paz, encontrarmos outras soluções mais humanas, mais autênticas, mais garantes e fiáveis de um futuro promissor para toda a humanidade. O primeiro passo é querer e crer!

Pe. Manuel António Guerreiro do Rosário
in Ecos de Grândola, nº 258, 11 de Outubro de 2013