sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Liberdade religiosa: obstáculos e expectativas


liberdade é um valor que, infelizmente, depara com dificuldades para se afirmar nas nossas sociedades. É claro que, onde falta a liberdade, não há espaço para uma verdadeira liberdade religiosa. É sobre este valor que gostaria de escrever algumas linhas.

Em alguns países, os atentados são evidentes, grosseiros até, e a sua denúncia, por isso, mais clara, embora nem sempre mais fácil, porque as ameaças e a morte são bandeira sempre içada. Esta é a situação vivida nas ditaduras, sejam elas políticas, tecnocráticas, ou religiosas. A privação da liberdade convém a quem governa, para que não se ponha em causa o status quo. O mundo, desde os anos 80, tem vindo a assistir a mudanças tão radicais, que transformaram significativamente a sua face. Persistem, contudo, situações em que a mudança se aguarda, é desejável e decerto acontecerá, porque a sede de liberdade é mais forte que a censura e os grilhões. Sugiro a leitura dos relatórios anuais da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS).

Noutros países, os resquícios de intolerância são mais sub-reptícios e obedecem a planos bem arquitectados, por quem tem agendas definidas, com objectivos previamente delineados. Os seus sinais persistem em alguns países ocidentais, nos quais um totalitarismo, mascarado muitas vezes de democracia, convive mal com a liberdade e com a liberdade religiosa em particular. A tentação de a reduzir à esfera da consciência pessoal, sem quaisquer manifestações exteriores, nem símbolos visíveis, é realidade crua em alguns países. E tudo isto em nome da defesa dos que pensam de forma diferente ou não acreditam. É claro que os cristãos, tal como todas as outras pessoas, têm o direito de não se calarem, de se manifestarem e de não abdicarem de dar o seu contributo específico na edificação da Polis, pois, como lembrava o Concílio Vaticano II, na Constituição Gaudium et Spes “nada do que é humano deverá ser indiferente aos discípulos de Cristo”.(n.º1)

Pe. Manuel António Guerreiro do Rosário
in Diário do Alentejo, nº 1647, 15 de Novembro de 2013