sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Liberdade Religiosa: Realidade ou utopia?


Talvez por ter escrito este artigo num Domingo, dia sempre especial para nós cristãos, e por falar frequentemente deste tema, optei por reflectir sobre algumas das dificuldades que os cristãos encontram hoje na vivência da fé, em contextos diferentes, mas paradoxalmente semelhantes nas dificuldades que criam ao exercício da liberdade religiosa.
 
Em alguns países a liberdade religiosa, pura e simplesmente não existe, e, por isso, os cristãos não podem celebrar a sua fé, não a podem anunciar e transmitir a outros, antes encontram dificuldades de toda a ordem para construir Igrejas e desenvolver aquelas actividades apostólicas que se esperaria poderem ser realizadas sem limites, nem condições. Em casos extremos, mas não raros, ser cristão é ser um candidato ao martírio. A prová-lo o facto dos cristãos serem hoje, a nível mundial, o grupo mais perseguido.
 
Esta situação podemos encontrá-la nalgumas das ditaduras ainda persistentes na actualidade, e nos países onde o fundamentalismo islâmico, ou hindu, ganha terreno e dificulta a vida às minorias. Não deveria, obviamente, ser assim porque a liberdade religiosa é um direito consagrado internacionalmente e a reciprocidade, deveria por isso mesmo, ser tónica comum em todos os Estados, pois é assim que os crentes de todas as Religiões reconhecidas são tratados, por exemplo, na Europa ou noutros países de matriz cristã.
 
Por outro lado, nos países ocidentais, assistimos também a manifestações, não apenas de indiferentismo religioso, mas de marginalização e discriminação dos cristãos, em nome de uma pretensa forma de entender a liberdade e a expressão das próprias convicções. Neste "movimento" convergem grupos, instituições e ideologias muito diferentes entre si, mas com objectivos comuns, entre os quais se inscreve o ataque a tudo aquilo que possa ter referências cristãs. É verdade que estes grupos são minorias, mas são poderosas nos meios que possuem e nos auxílios que facilmente recrutam e lançam nos campos que vão sendo definidos como prioritários. Pensemos apenas nos atentados à vida humana nascente ou na fase terminal.
 
Não me alongo mais, porque a lista é extensa. Basta, tão só, ler os Relatórios que a Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) publica anualmente, para percebermos as dificuldades que se vivem no campo da liberdade religiosa, a extensão do fenómeno, e a diversidade das suas manifestações. É claro que os cristãos não têm só direitos, também têm deveres e, por isso, os países têm a obrigação de exigir dos crentes e das Igrejas, Igreja Católica incluída, verdade, transparência, lealda­ de, colaboração, quando estão em causa interesses superiores, o bem comum, ou prioridades que devem ser assumidas por todos.
 
Nalguns casos extremos, as dificuldades que os cristãos encontram podem até ter tido a sua origem, porventura, em situações originadas por outros cristãos e, nesse caso, deverá haver uma mudança de postura, que permita construir de novo, sobre novas bases, sem excepções, nem desconfianças. Como diriam os Padres da lgreja:"há sementes do Verbo (Cristo)" espalhadas por muita gente, mesmo em contextos não religiosos, ou não cristãos.

Pe. Manuel António Guerreiro do Rosário
in Ecos de Grândola, nº 259, 08 de Novembro de 2013