sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

O mistério do homem


ser humano é, de facto, uma maravilha e não deixa de nos surpreender. Quando parece que tudo está dito, eis que surge a novidade e o homem confirma ser fonte inesgotável, tesouro insaciável, autêntico mistério.

Há, porém, questões que são de sempre, e, por fazerem parte do ADN humano, cedo ou tarde, colocar-se-ão a todos, apesar de alguns iluminados ao longo da história desta velha humanidade terem profetizado o fim da religião e a morte de Deus. Entre estas questões, a que a fé e a religião procuram responder, podem incluir-se: a felicidade, o livre arbítrio, os valores, a amizade e o amor, o sentido da vida, o sofri- mento, o desespero, a dor, a morte, Deus.

A fé e a religião, nas sociedades hodiernas, apesar das mutações em curso, não estão em crise, o que está em crise é o paradigma. De facto, o abandono das formas mais “oficiais” da religião é “compensado” pelo proliferar de um sem número de movimentos espirituais e religiosos, vulgarmente de carácter sincretista e mais espontâneo, sinal de que nada nem ninguém pode retirar ou apagar do coração humano estas inquietações. A este propósito, Santo Agostinho, aquele irrequieto pensador de Hipona, disse um dia, depois de se ter tornado cristão: “Senhor, criaste-nos para vós e o nosso coração não repousa, enquanto não descansar em vós”. Creio ser bem verdade o que ele afirma.

É certo que nem todos reagem, nem são despertos da mesma forma, e às vezes, a culpa é nossa, dos cristãos, dos pastores, dos consagrados, pela imagem que transmitimos de funcionários do religioso, sem alma nem convicção, com horários estritos e regras apertadas, esquemas pré-definidos e incapacidade de acolher, de ir ao encontro do outro, de pro- por a novidade, a força renovadora do Evangelho que Cristo viveu e anunciou.

Olhemos para o Papa Francisco e deixemos que o seu exemplo e as suas interpelações nos alcancem e conquistem, e que, com ele, nos deixemos envolver na alegria do Evangelho, Boa Nova para todo o homem sem excepção.

Pe. Manuel António Guerreiro do Rosário
in Diário do Alentejo, nº 1650, 06 de Dezembro de 2013