sábado, 11 de janeiro de 2014

Porque não Privilegiar a Crónica Branca?


Penso já ter feito algumas abordagens, ainda que breves, desta temática mas, pela época do ano em que nos encontramos, não resisto a voltar de novo a ela, deixando o pensamento voar e a pena deslizar.

Para além do realismo das notícias que nos são transmitidas, tenho-me perguntado muitas vezes porque se insiste em apresentar sobretudo aquilo que de menos bom ou mesmo mau acontece, quando, por outro lado, há tantos acontecimentos positivos, bons, belos, que nos podem animar, entusiasmar e, nestes tempos de crise, devolver a esperança que, apesar de tudo, vai resistindo ao desalento. Não sei se a culpa é de quem "produz" as notícias ou de quem as "consome", ou talvez se aplique também aqui a história do ovo e da galinha...

Por nos encontrarmos num tempo especial como é o Natal e o Ano Novo, todos os dias as notícias de "crónica branca" vão invadindo os écrans e as primeiras páginas dos jornais e das revistas. Podemos, no entanto, interrogar-nos: mas é só nesta altura que se pratica o bem e a solidariedade? Será que quem realiza tais iniciativas espera apenas por este tempo para as levar a cabo? E durante o resto do ano, não se faz nada em prol dos outros? Secou o rio da solidariedade? A resposta não é fácil, mas se alguns factos têm carácter pontual, e não deixam de ser meritórios por isso; outros, pelo contrário, são quotidianos e vão sistematicamente, embora não mediaticamente, minorando dificuldades, semeando solidariedade, espalhando o amor, mudando de forma consistente a face das nossas sociedades.

Pela minha parte, como pessoa positiva e de esperança e como cristão, acredito que há muitos mais acontecimentos positivos do que negativo: e, se estivermos atentos poderemos ser surpreendidos pelo seu número e qualidade. O que é preciso é que eles se tornem notícia e nos sejam transmitidos por quem tem essa missão.

Referindo-me apenas a este microcosmos que é Grândola, sou testemunha do muito bem espalhado, da imensa solidariedade plantada, de um mar imenso de generosidade que tem brotado de forma continuada dos corações das suas gentes. Por tudo o que tenho vivido, só posso ser um espírito positivo e optimista, embora esteja consciente ela enormidade do que importa realizar. Atrevo-me, por isso, a dirigir-me a tantas pessoas que ainda vivem dominadas por sentimentos menos positivos, receosas de se abrirem aos outros e de se tornarem obreiras de acontecimentos benfazejos, e faço-o usando as palavras do Maestro Lopes Graça: Acordai!

Como cristão acredito profundamente naquilo que de bom existe no coração humano e também acredito na mudança do que não é bom e que pode passar a sê-lo, quando as pessoas se abrem e se transformam.

Era bom que o Ano de 2014 nos surpreendesse com um maior protagonismo da "crónica branca" em relação à "crónica negra", nos mass media, porque acontecimentos a atestá-lo não faltam.

A todos os leitores do Ecos desejo um Ano de 2014 conduzido pela esperança, pelo desejo e pelo empenho em mudar de discurso, abandonando a lógica do "está mal", do "não há nada a fazer", do "está cada vez pior", e passando a privilegiar a iniciativa, o empenho, a criatividade, os gestos concretos e diários de solidariedade que, se se multiplicarem, farão toda a diferença. Coragem!

Pe. Manuel António Guerreiro do Rosário
in Ecos de Grândola, nº 261, 10 de Janeiro de 2014