em sempre nos apercebemos das incoerências e contradições que marcam a nossa vida, e é frequente, por exemplo, exigirmos aos outros aquilo que não admitimos que exijam de nós. Sem querer esgotar as situações em que isto se pode verificar, deixo apenas alguns exemplos:
Quantas vezes somos agressivos, altaneiros, mal-educados com outras pessoas, e deploramos atitudes deste género, quando o alvo somos nós?
Quantas vezes exigimos verdade, honestidade, transparência e fidelidade, mas sempre em único sentido?
Quantas vezes anunciamos a importância da confidencialidade, a hierarquia das verdades e dos princípios, e fazemos precisamente o contrário?
A Bíblia, no Antigo Testamento, tem duas frases, plenas de sabedoria, que nos poderão dar uma preciosa ajuda no repensar da nossa vida: “não faças aos outros, o que não queres que te façam a ti”; “faz aos outros, o que queres que te façam a ti”.
A clareza, horizontalidade e praticidade desta mensagem torna-as acessíveis mesmo a quem não tem fé, desde que procure viver segundo a consciência, na rectidão e na verdade.
Na correria da vida hodierna, que não favorece a paragem e a reflexão, torna-se cada vez mais necessário descobrir e inventar oásis que nos ajudem a repensar as nossas palavras, gestos e atitudes, a conhecermo-nos melhor, e a perceber a realidade da nossa condição. Só assim poderemos perceber que a fragilidade e a imperfeição são características da condição humana. Esta constatação, ser-nos-á de grande utilidade, pois, quanto mais percebermos a falibilidade da nossa humanidade, às vezes na relação uns com os outros, tanto mais nos poderemos disponibilizar para a mudança de paradigma existencial, encontrando caminhos novos e de renovação.
Sem grandes projectos nem ambições, estas duas frases podem ajudar-nos a colocar os pés em terra e a perceber, como diz o Provérbio, que: “um grande caminho começa com o primeiro passo”.
Bom exercício … para todos, caros leitores.
Pe. Manuel António Guerreiro do Rosário
in Diário do Alentejo, nº 1667, 04 de Abril de 2014