sábado, 14 de junho de 2014

sexta-feira, 13 de junho de 2014

João XXlll e João Paulo lI


A canonização destes dois grandes Papas, que conduziram a Igreja Católica em períodos complexos mas desafiantes, despertou em mim o desejo de escrever um pouco sobre alguns dos contributos que ambos deram à Igreja e ao Mundo.

De João XXIII recordo com muita esperança e entusiasmo a Carta Encíclica "Pacem in Terris", de 1963, onde o "bom Papa João" propunha a toda a Humanidade 4 pilares fundamentais para instaurar a verdadeira paz entre os homens, que é possível, necessária e prioritária: Justiça, Verdade, Liberdade e Amor. Cada um destes valores tem uma densidade e exigência tais, que mereceria pelo menos um artigo. É assunto a ponderar.

Recordo também como o Papa João, quis que "os homens e as mulheres de boa vontade" passassem a ser destinatários deste e de muitos outros documentos da Igreja, e de como este facto abriu as portas da Igreja a todo o Mundo, num abraço fraterno, sincero, desinteressado, e permitiu o estabelecimento de um novo tipo de relação baseado no diálogo, no respeito e na procura de consensos.

Lembro ainda o seu empenho em alargar o diálogo aos "Países da Cortina de Ferro", combatendo os preconceitos de um e outro lado, e apostando numa política eclesial de abertura e de respeito.

Eleito como Papa "de transição", pela sua idade, acabou por lançar as bases do mais importante acontecimento eclesial dos nossos tempos: O Concílio Vaticano II (1962-1965).

João Paulo II viveu sob duas ditaduras que dilaceraram a Europa, e foi capaz de contribuir para a "Queda do Muro", que permitiu o surgimento de uma nova Europa "do Atlântico aos Urais". A ele devemos uma dinâmica eclesial plena de energia e universalidade, que lhe mereceu o título de "Papa Globetrotter". As suas visitas a distintas realidades humanas e eclesiais, e as Jornadas Mundiais da Juventude, encheram o Mundo da alegria e da esperança que os jovens são portadores, e deu à Igreja uma jovialidade e frescuras que mexeu com os seus alicerces e em muito contribuiu para a sua renovação.

A sua grande devoção a Nossa Senhora e a Fátima em particular, tornou ainda mais real aquele título: "Fátima, Altar do Mundo". A devoção Mariana do Papa levou Fátima e Portugal a todos os confins da Terra. O facto de ter sido o primeiro Papa não italiano em séculos, tornou a Igreja ainda mais Católica, universal, e contribuiu para que as próprias estruturas da Igreja passassem a reflectir ainda mais esta realidade e favoreceu, sem dúvida, a escolha de um Papa, igualmente pela primeira vez em muitos séculos, não europeu: o Papa Francisco.

Não conheci João XXIII, mas recordo-o com muita admiração e devoção, e agradeço a Deus o dom que nos concedeu neste enorme Homem de Deus.

João Paulo II foi o Papa da minha juventude: entrei no Seminário no ano em que ele esteve em Portugal: 1982. Vibrei junto dele e de milhões de jovens nas Jornadas Mundiais da Juventude e visitei-o no Vaticano, experiência que guardo bem do fundo do meu coração e que me tem ajudado a manter o entusiasmo e a alegria de ser padre, há já quase 26 anos.

Diferentes e separados no tempo, amaram profundamente a Igreja e este Mundo em que vivemos, e procuraram cada um contribuir para a queda do muro da desconfiança que tantas vezes, ao longo dos tempos, levou os homens a afastarem-se da Igreja.

Aos dois estou profundamente grato.

Pe. Manuel António Guerreiro do Rosário
in Ecos de Grândola, nº 266, 13 de Junho de 2014