sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Férias, Tempo também de Solidariedade


As férias são, em geral, tempo de paragem, de repouso, de mudança. Para muitos, contudo, elas resumem-se a permanecer nos mesmos sítios, alterando algumas rotinas, pois os magros orçamentos não permitem mais. Para alguns, e cada vez mais, sobretudo jovens, as férias são igualmente tempo dedicado ao voluntariado, à partilha, à solidariedade, vivida dentro ou fora do país.

Na verdade, todos os anos, centenas de jovens portugueses, engrossam o número de milhares de jovens que, da Europa e de outros Continentes, partem rumo a destinos materialmente menos favorecidos, mas dotados de outras riquezas. Estas experiências são extremamente benéficas a todos os níveis: para as comunidades de acolhimento, representam a oportunidade de, sem grandes despesas, receberem novos ensinamentos, que podem fazer toda a diferença em sectores como a saúde, a educação, a agricultura, ou outros. Para quem vai, além da experiência que adquire ao partilhar o que a Escola ou a Profissão ensinam, aprenderá a dar valor àquilo que, de facto, é importante na vida, pois tantas vezes muitos destes jovens são oriundos de sociedades onde cada um vive dominado por um exacerbado egoísmo e individualismo, que paulatinamente destroem corações, vidas, famílias, relações. Uma experiência deste género poderá ainda proporcionar a descoberta, talvez inesperada, que se recebe tanto ou mais do que se transmite, e de como se cresce na dinâmica da generosidade, da entrega, e do compromisso em favor dos mais pobres. Como diria S. Francisco de Assis, num dos textos que mais admiro: "é dando que se recebe; é perdoando que se é perdoado; é amando que se é amado."

Porque todos os anos, apesar das dificuldades que a crise vai objectivamente colocando, cresce o número dos que fazem esta opção de férias solidárias, creio não poder alinhar no coro daqueles que, ao olhar para a nossa sociedade, só vêem o negativo e profetizam unicamente desgraças para o futuro. Sem querer ser irrealista, como homem e cristão, só posso salientar aquilo que de positivo estes sinais indiciam e que, por isso mesmo, deve ser reconhecido, incentivado e multiplicado. Acredito nos jovens e também acredito naquilo que de bom existe no coração humano, e que precisa, tão só, de condições para se manifestar. O egoísmo, o individualismo e todos os sentimentos negativos que existem no coração humano, só se manifestarão e dominarão, se o permitirmos. No nosso coração também existem e florescerão abundantemente sentimentos de paz, amor, reconciliação, de serviço ao próximo, se lhes dermos oportunidade. Uma das diferenças abissais entre eles é que, os negativos destroem, são como muros, enquanto os outros constroem, são pontes.

Já agora, porque não aproveitar também as férias para reflectirmos sobre a nossa vida, para podermos perceber melhor, discernir e separar o trigo e do joio que existem em nós, e fazer as opções certas que nos ajudem a crescer, a mudar, a tornarmo-nos melhores pessoas?

Está na nossa mão. Basta querer, pois querer é poder!

Boas férias, sejam elas passadas em casa ou fora dela.

Pe. Manuel António Guerreiro do Rosário
in Ecos de Grândola, nº 268, 08 de Agosto de 2014