sexta-feira, 12 de setembro de 2014

À Conversa com Padre Manuel António Guerreiro do Rosário


Manuel António Guerreiro do Rosário, pároco de Grândola, natural de Baleizão, doutorou-se em Teologia Moral na Pontifícia Universidade Lateranense de Roma, com a tese "Discernimento dos Sinais dos tempos e consciência Moral, a partir do magistério da Conferência Episcopal Portuguesa (1974/1995)". Celebrou as suas bodas de prata sacerdotais em 2013. Para melhor o conhecer, fomos ao seu encontro a fim de trocarmos algumas ideias, sobre si e sobre a sua paróquia.

Ecos de Grândola: - Como foi a sua adaptação a Grândola?
Padre Manuel António: - Antes de mais, agradeço esta oportunidade que me é dada de falar sobre a minha estadia em Grândola. Estou em Grândola há quase seis anos, mas parece que há muitos mais, porque me sinto perfeitamente integrado nesta comunidade, que me acolheu de uma forma extraordinária Costumo dizer que, por razões familiares, me desloco a Beja semanalmente, mas a minha casa é em Grândola. Para além de, como sacerdote, me dever integrar nas comunidades que o Senhor Bispo me confiar, em Grândola não foi preciso esforçar-me: tudo aconteceu de forma natural. Gosto muito de aqui viver e trabalhar.

E.G.: - Como caracteriza as gentes do concelho?
P.M.A: - As gentes de Grândola fazem jus à canção: Grândola é mesmo terra da fraternidade. As pessoas são acolhedoras, simpáticas, próximas e de uma grande generosidade. Tenho confirmado ano após ano estas características, por todos os projectos que temos vindo a realizar a nível da Paróquia de Grândola e mesmo das outras comunidades mais pequenas.

E.G.: - Passados seis anos, como vê a comunidade cristã local?
P.M.A.: - A nível religioso, apesar de persistirem ainda alguns preconceitos, fruto de questões que mergulham as suas raízes na história secular desta comunidade, estou satisfeito com a resposta e a persistência dos cristãos. A comunidade tem vindo a crescer consistentemente e é hoje, depois de Moura, a que tem mais praticantes em toda a Diocese de Beja. Há, contudo, ainda muito a fazer e estou firmemente convencido de que há condições para continuar a crescer e a frutificar.
 

"As gentes de Grândola fazem jus à Canção: Grândola é mesmo a Terra da Fraternidade"

E.G.: - Como têm sido as relações com as instituições locais, nomeadamente as de carácter político?
P.M.A: - O sacerdote não se deve envolver em questões de natureza político-partidária; a sua função é unir e não colar-se a quem quer que seja, e ser, por isso, factor de divisão. Além do mais, os cristãos são livres de fazer as suas legítimas opções, sem qualquer intervenção ou dirigismo do sacerdote. Esta tem sido a minha atitude, desde que me conheço, e continuará a ser. Creio que tenho uma relação boa e construtiva com todas as instituições, independentemente da sua cor política, baseada na verdade, na transparência e no serviço da comunidade e do bem comum. Não tenho outros objectivos.

E.G.: - Como conseguiu, em tão pouco tempo, levar a cabo tantos melhoramentos em edificações da Igreja?
P.M.A:
- Ninguém trabalha sozinho e, por isso, tudo o que foi feito e continuará a ser, é fruto de um conjunto de parcerias naturais que revertem em favor de Grândola. As pessoas e as instituições têm sido muito abertas e generosas e é sempre Grândola que beneficia. Como disse há pouco, não me movem outros projectos que não sejam o bem de Grândola e das suas gentes. Juntos, sem barreiras nem preconceitos, poderemos fazer ainda muito mais. Pela minha parte estou completamente disponível, bem como a comunidade cristã.


E.G.: - Como tem avaliado a abertura do Museu de Arte Sacra?
P.M.A: - O Museu foi mais uma das apostas ganhas, que em muito tem valorizado Grândola. Ele é visitado por uma média anual de 5.000 pessoas desde que foi inaugurado, no dia 23 de Agosto de 2011 e é, no geral, muito apreciado. Os comentários dos visitantes podem ser lidos na Página que a Paróquia tem na Internet e são muito elogiosos e estimulantes. Grândola é uma localidade com muitos visitantes e o Museu é já um sítio de visita obrigatória. As entradas são gratuitas e isso é também uma vantagem. O apoio da Câmara Municipal, tal como noutros projectos, e de muitos amigos, instituições e empresas, tornaram possível a sua abertura e manutenção. Queremos continuar a melhorá-lo e gostaríamos de alargar a exposição a outras áreas, mas o espaço é diminuto. Necessitamos de encontrar um espaço complementar com maiores dimensões: ainda há muita arte sacra por mostrar e que é desconhecida pela generalidade das pessoas. Esperemos que outras portas se abram. Estamos disponíveis para continuar a mostrar a arte sacra que existe em Grândola, nomeadamente a Paramentaria, de excepcional qualidade, e o Arquivo Paroquial, inventariado pelos técnicos da Câmara Municipal e considerado pelo Departamento do Património da Diocese um dos melhores de toda a Diocese. Há potencial enorme... Mas não temos espaço!

E.G.: - O Festival Terras Sem Sombra foi uma aposta ganha?
P.M.A: - Sem dúvida. O Festival é hoje considerado um dos melhores do género em toda a Europa e sem dúvida o melhor no País. Grândola entrou neste projecto e tem dado um importante contributo na sua afirmação. São muitos os que se deslocam à Diocese, oriundos de todo o país e de outros países da Europa. É um projecto consistente que deve continuar e ser apoiado pelas forças vivas das comunidades que já fazem parte do projecto.

E.G.: - Pensa que, num futuro próximo, o Carvalhal terá a sua Igreja?

P.M.A.: - Não tenho a menor dúvida. É essa a vontade do seu Pároco, Pe. José Bravo, das forças vivas locais e de todas as suas gentes. Creio que estamos a chegar à concretização deste desejo, sonho para gerações de pessoas. A pedido do Pe. José a Diocese já aprovou a criação do Vicariato Paroquial do Carvalhal, passo que precede o surgimento da figura jurídica da Paróquia. É um passo decidido e decisivo, do lado da Igreja, agora faltam outros, que também não duvido irão ser dados.

E.G.:- Espera que a Igreja de São Pedro possa voltar a ser lugar de culto? Quando?
P.M.A.: - Como S. Pedro não pertence à Paróquia, prefiro não me manifestar. Se fosse, falaria de outra forma e é evidente que teria uma ou várias finalidades claramente definidas.

E.G.: - Que actividades destinadas a jovens, se desenvolvem junto da paróquia?
P.M.A.: - Fizemos uma aposta clara na Catequese de crianças, adolescentes e jovens, bem como nos Escuteiros e queremos continuar neste caminho, criando ainda mais condições e consolidando os projectos que temos vindo a delinear. Fizemos também uma aposta na música, com a Morenitaótuna e as aulas de viola, que atingem um número muito significativo de jovens (e também de outras faixas etárias). Esta aposta contribuiu para uma renovação profunda da comunidade cristã, para a dinamização das celebrações e a multiplicação de actividades, que temos vindo a estender a todo o Concelho e mesmo para além das suas fronteiras.

E.G.:- Como vê o seu futuro, enquanto homem da Igreja?
P.M.A.: - Como já referi atrás, não tenho projectos pessoais, para além de servir o melhor que sei e posso o povo que me foi confiado, o que é para mim motivo de muitas alegrias e de realização enquanto pastor e cristão. Sou um padre feliz e realizado por estar perto das pessoas e ao seu serviço. Não tenho outros projectos ou ambições. Quero apenas continuar a contribuir para a renovação da comunidade cristã, levando a fé a todos, mesmo e sobretudo, até àqueles que andam mais afastados, porque a Boa Nova de Jesus também é para eles. Conto com o apoio dos cristãos e espero que surjam cada vez mais cristãos empenhados, que, com os seus talentos e envolvimento, ajudem a Paróquia a descobrir novos caminhos e a levar mais longe a Palavra de Jesus. Uma Paróquia deve ser uma comunidade viva, onde os cristãos não sejam meros espectadores, mas actores e protagonistas, agentes da renovação e rejuvenescimento da Igreja Temos estado a trabalhar nesse sentido e queremos continuar por este caminho.
Obrigado, mais uma vez, por esta oportunidade que me foi dada.

Lucília Saramago
in Ecos de Grândola, nº 269, 12 de Setembro de 2014