sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Muros e pontes


viagem do papa Francisco à Coreia do Sul, um país integrado numa península ainda hoje dividida, e os seus fortes e claros apelos à superação desta e de outras divisões, despertou em mim o desejo de escrever sobre alguns dos muros que ainda persistem no nosso Mundo. Não vou ser fastidioso elencando-os, mas, mesmo assim, atrevo-me a referir alguns: entre as duas Coreias; entre os Estados Unidos e o México; entre Israel e os Territórios sob Administração da Autoridade Palestiniana, etc. Estes são, talvez, os mais conhecidos, mas há ainda muitos outros, nem sempre materiais, mas nem por isso menos reais, maléficos e obstaculizadores da criação de uma verdadeira família humana transcontinental. Basta parar e pensar um pouco e uma longa lista surgirá à nossa frente!

As palavras do papa, no seu estilo muito particular e incisivo, atravessaram todos os continentes e creio que terão sido ouvidas por alguns (seria bom todos) dos “alvos” a atingir. Porque estamos num mundo global, seria de auspiciar que as potentes auto-estradas da comunicação pudessem contribuir também para a queda destes muros, e pela sua substituição por uma nova cultura da fraternidade e da solidariedade, do diálogo, do respeito pelo outro, da tolerância (entendida em sentido amplo) e da liberdade. Precisamos todos que estes meios não só nos aproximem, mas nos tornem, de facto, mais conscientes de que formamos uma só família, e, por isso, o nosso futuro está cada vez mais inter-relacionado e dependente. É preciso que aos muros se sucedam as pontes.
O papa Francisco não é uma voz isolada, clamando pela mudança, mas a verdade é que precisamos de muitos profetas e obreiros com ele, que não tenham medo de se envolver, como disse o papa Paulo VI, na construção da “Civilização do Amor”, transformando “as espadas em relhas de arado e as lanças em foices” (Cf. Isaías 2,4).

O sonho comanda a vida e este é um sonho que vale a pena e que está ao nosso alcance.

Pe. Manuel António Guerreiro do Rosário
in Diário do Alentejo, nº 1691, 19 de Setembro de 2014