sexta-feira, 14 de novembro de 2014

A Propósito do Sínodo sobre a Família


Segui com alguma atenção o último Sínodo sobre a Família, que decorreu no Vaticano no mês de Outubro e gostaria de salientar algumas notas que não foram, na minha opinião, devidamente tidas em conta por muitos dos que sobre ele escreveram:

1. Para além da habitual discussão "dentro dos muros da Igreja", foram muitos os contributos e as reflexões que de forma transversal chegaram de todo o Mundo, aproveitando os novos fóruns de comunicação, sendo acolhidos e introduzidos nas propostas reflectidas;

2 A presença e o protagonismo de um grande número de Leigos, casais em especial, e dos já habituais observadores de outras Confissões Cristãs Irmãs e de outras Religiões, sendo um dado adquirido, particularmente desde o Concílio Vaticano II, é revelador da atitude de uma Igreja que se quer de "portas abertas para a Humanidade";

3. O Papa durante quase todo o Sínodo esteve em silêncio para não influenciar directamente o teor das diversas intervenções dos participantes, reconhecendo deste modo o valor da dimensão sinodal na vida da Igreja e afastando aquela imagem "monárquica" que tantas vezes transparece da sua missão de sucessor de Pedro;

4. Foi, por isso, sensível um ambiente de total liberdade de expressão de opiniões e de divergências, e é também de assinalar que os resultados das votações foram de igual forma comunicados, revelando deste modo uma vontade de não esconder diferenças, que são uma riqueza da catolicidade da Igreja: unidade não se confunde com unicidade;

5. Apesar de não haver um consenso claramente maioritário sobre alguns temas, de reconhecida importância, gerou-se uma sã clarificação de posturas da Igreja e uma vontade firme de não fugir às questões mais problemáticas e fracturantes;

6. A maioria das questões reflectidas mereceu, contudo, um assinalável e esmagador consenso, e as suas consequências far-se-ão decerto sentir na acção da Igreja, que procurou deste modo prosseguir na linha do "aggiomamento” preconizado pelo Concilio Vaticano II, que há cinquenta anos não hesitou em fazer suas as grandes questões e preocupações da Humanidade;

7. Foi visível o esforço feito pela Igreja de abrir portas e não excluir ninguém, mesmo apesar das críticas daqueles que pretendiam que se fosse mais longe nalgumas temáticas mais controversas. O Sínodo, porém, ainda continuará no próximo ano de 2015 e as conclusões a que agora se chegou voltam para as comunidades, para serem de novo aprofundadas e delas serem tiradas conclusões e consequências;

8. Por tudo o que se viveu nesses proféticos dias em Roma, não duvido em afirmar que a Igreja saiu reforçada no seu desejo de estar mais próxima do Homem actual, colocando-se ao seu serviço e na sua defesa porque, como afirmou o Papa João Paulo II, “o Homem é a via da Igreja".

Pe. Manuel António Guerreiro do Rosário
in Ecos de Grândola, nº 271, 14 de Novembro de 2014