sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Duvidar e errar é humano


enho dúvidas muitas vezes, em variadas circunstâncias, e sobre imensas questões, porque decidir e decidir bem não é coisa fácil. Tenho, contudo, alguma relutância em aceitar que se entenda a liberdade como o alibi perfeito para dizer tudo sem limites, ofender sem direito ao contraditório, afirmar sem provar o que se afirma, julgar e condenar na praça pública, antes dos tribunais ou mesmo à revelia dos mesmos.

Como cristão e sacerdote, sei e sinto como a fragilidade, o erro, o pecado, são inerentes à condição humana e, por isso, deveríamos ter sempre muito cuidado com o juízo que fazemos uns dos outros, não aceitando como certo e verdadeiro aquilo que se baseia tão-somente em meras suposições e impressões.

Em plena e luminosa Idade Média, S. Tomás de Aquino legou-nos as três Fontes da Moralidade: Sujeito, Objecto e Circunstâncias. O Sujeito é a pessoa que pensa, age, tem intenções e finalidades. O Objecto, que pode ser bom, mau, neutro ou indiferente, indica a dimensão objectiva da moral. As Circunstâncias são as condicionantes do nosso agir, que, apesar de nunca tornarem bom aquilo que é mau, podem ajudar a redimensionar a responsabilidade do sujeito. É, pois, tão fácil errar quando julgamos a partir exclusivamente da dimensão objectiva, e dessa cátedra emitimos as nossas sentenças, esquecendo a pessoa concreta e as circunstâncias que a rodeiam.

A Bíblia utiliza, entre outras expressões, a palavra Coração, para significar a nossa consciência, o nosso eu mais profundo, e assim nos prevenir da tentação de julgar os outros a partir do que vemos, pois só Deus e nós próprios (nem sempre) somos capazes de saber o que vai no íntimo do nosso coração.

Por tudo o que acabo de afirmar, que sei de antemão não ser fácil de explicar e de entender, creio que temos de ser muito tolerantes e prudentes quando nos pronunciamos sobre os outros, pois, como diz Jesus no Evangelho: “Quem estiver sem pecados, que atire a primeira pedra”.

Pe. Manuel António Guerreiro do Rosário
in Diário do Alentejo, nº 1712, 13 de Fevereiro de 2015