sexta-feira, 10 de abril de 2015

A Primavera e a Páscoa


A Primavera é um tempo extraordinário em que a vida brota e tudo se enche e canta de alegria, bastando olhar para a maravilha dos nossos campos e deixarmo-nos deslumbrar pelas suas mil cores, que rebentam intempestivamente, rompendo por todo o lado sem pedir autorização, numa harmoniosa sinfonia de cores e beleza que nos envolvem e conquistam.

Para nós cristãos, Primavera é também sinal de Páscoa, da Vida, de Alegria, pois nela celebramos a vitória da Vida sobre a Morte, em Cristo Jesus Morto e Ressuscitado, Aquele que, para nós cristãos, nos vem revelar Deus e a Sua vontade salvífica de estabelecer uma aliança com toda a humanidade, doravante chamada a ser uma só família, caracterizada pelo perdão e pela reconciliação. A Páscoa é, por isso mesmo, na sua essência, coração da fé cristã.

Por ser um tempo tão importante, ela é preparada pela Quaresma e concluiu-se na Semana Santa, prolongando-se os seus festejos durante mais cinquenta dias, até ao Pentecostes, descida do Espírito Santo sobre a pequenina comunidade cristã em oração, com os Apóstolos e Nossa Senhora.

Em muitos locais, dentro e fora de Portugal, à celebração do mistério pascal de Cristo, foi possível associar e integrar outras dimensões mais profanas, numa feliz complementaridade que, porém, não deve fazer esquecer o que se-celebra nestes dias intensos; e essa é uma das nossas missões, enquanto cristãos. Nestes dias somos, pois, convidados a meditar na fragilidade da vida humana e na humildade em que deveríamos viver, enquanto discípulos de Cristo, pois foi este o caminho por Ele assumido e percorrido, o qual nos é igualmente proposto para nele prosseguirmos.

Este tempo lembra-nos ainda uma frase que repetimos muitas vezes, quando rezamos o Pai Nosso, e que pouco se reflecte na nossa vida: a disponibilidade para fazer a Vontade de Deus. Esta supõe a consciência dos nossos pecados, um desejo firme de mudarmos de vida e de nos reconciliar­mos, com Deus e com os irmãos, no fundo, de nos renovarmos, sem nunca desistir, mesmo quando os obstáculos são grandes e nos desafiam, colocando em causa as nossas forças humanas.

Páscoa é também, já o dei a entender, tempo de esperança, uma esperança que vence a morte e nos diz que o nosso horizonte já não é o cenário dos confins deste mundo, mas a eternidade, a imortalidade, porque em Cristo também nós somos vencedores e temos a certeza de que, para quem, acredita, avida não acaba, apenas se transforma.

Que estes dias nos ajudem a recuperar a autêntica alegria, a meditar e a agradecer o dom e o mistério da vida, da nossa vida, e de como sem Deus ela (vida) é pobre, incompleta, carente, de um projecto que nos envolva, arrebate e nos convença do quanto Deus nos ama, ao ponto de Se fazer um de nós, para que nós nos tomemos e vivamos como filhos de Deus e irmãos em Cristo.

Uma Páscoa bem vivida.


Pe. Manuel António Guerreiro do Rosário
in Ecos de Grândola, nº 276, 10 de Abril de 2015