sábado, 19 de setembro de 2015

O que vale a vida humana?


humanidade vive um dos seus maiores dramas, desde a II Grande Guerra, com a deslocação de imensas massas humanas, que procuram, no meio das mais frágeis, degradantes, e indignas condições, cruzar o oceano da fome, da miséria, da guerra, e aportar a terras de pão e de esperança, mesmo que a realidade esteja mistificada e eivada de um certo irrealismo. Para quem tem tão pouco, tudo parece ser preferível.

Dada a enormidade e complexidade do problema, é preciso encontrar soluções, não apenas nos países de destino, mas tamm nos países de origem, muitos deles a braços com graves crises humanitárias, económicas e políticas, nalguns casos, de completa desagregação e desgoverno. A resposta terá, por isso, de ser global e transversal, exigindo a superação dos egoísmos nacionais e regionais, de modo que seja possível encontrar caminhos de solão para estes seres humanos, iguais a nós em dignidade e direitos. Esta é para mim a questão fundamental, mesmo admitindo a sua complexidade e dificuldade.

Nesta, como noutras questões onde está em causa a vida humana, preocupam-me os sintomas de uma certa amnésia, insensibilidade e indiferea, sobressaltadas momentaneamente pela notícia de mais algumas centenas de mortos, que se tornam paulatinamente milhares, mas que, mergulhando no oceano imediatista do esquecimento, rapidamente deixa de ser notícia, engolida por outras novidades, por vezes banais, onde a vida humana surge apenas como uma entre muitas variáveis.

A banalização e desvalorização da vida humana, considerada descartável para muitos, como gosta de dizer o Papa Francisco, é um dos sinais de que a nossa civilização está doente. Não duvido, por isso, que, no futuro, as gerações vindouras nos julgarão com um olhar reprovador.

Talvez seja tempo de voltarmos a ler com atenção a Declaração Universal dos Direitos Humanos, nomeadamente o seu nº1: “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. ().

Pe. Manuel António Guerreiro do Rosário
in Diário do Alentejo, nº 1743, 18 de Setembro de 2015