terça-feira, 13 de outubro de 2015

Regresso às aulas e outras questões


O início de um novo Ano Escolar é sempre motivo de uma amálgama de sentimentos, que atravessam todos os envolvidos: alunos e suas famílias, comunidade educativa, sindicatos, governo e demais protagonistas.

Não tenhamos dúvidas, eu pelo menos não tenho, de que o futuro de qualquer país, Portugal incluído, passa pela Escola, nos seus diferentes níveis. Não me compete avaliar a Escola que temos, pois não disponho de elementos, nem me sinto com competência para o fazer. Tenho, contudo, a firme convicção de que devemos apostar cada vez mais na formação das novas gerações, sempre respeitando o papel insubstituível da família, primeira instituição responsável pela educação dos filhos. Recordo a este propósito, e muitos dos nossos leitores também se lembrarão, que, num passado não muito longínquo, alguns regimes ditatoriais tentaram substituir-se à família, retirando-lhe toda e qualquer interferência na educação dos filhos. Essas tentativas falharam, mas a tentação persiste ainda hoje, de forma mais declarada ou eufemística, através de formas de subalternização da família, da aprovação de medidas contra e/ou à margem dela, da alteração de nomes e de funções, ao abrigo de uma pseudo-modernidade, cujos paladinos se consideram os únicos possuidores da verdade, numa espécie de versão laicista de um antigo lema que se usou muito na Igreja: Roma locuta. Causa finita. (Roma falou, já não há mais nada a acrescentar).Creio que a família não pode nem deve admitir que lhe retirem as suas competências neste campo, em nome da sua essência emissão e da verdadeira liberdade.

Há, no entanto, um outro lado desta questão, sobre a qual também gostaria de deixar algumas pinceladas. Como padre que sou, não sou pai, mas fui encarregado de educação durante alguns anos, de vários jovens que frequentavam o Seminário de Beja, e testemunhei, muitas vezes com tristeza e profunda inquietação, o desinteresse e a ausência de muitos pais e encarregados de educação, da Escola. Soluções para este problema, não tenho, mas gostava de deixar aqui, no início deste Novo Ano, os meus votos de que Escola e Família possam formar um binómio de complementaridade na prossecução deste projecto prioritário, que é a educação das novas gerações.

O que está em causa é tão importante, que mereceria ser objecto de um verdadeiro pacto de regime, envolvendo também os próprios partidos políticos. Estes deveriam entrar neste amplo projeto, dando mostras de autêntica maturidade democrática, e sendo capazes de despartidarizar esta questão, de modo a ser possível encontrar consensos, traduzidos em opções conjunturais, ou mesmo estruturais, prontas a atravessar várias legislaturas, e dar assim corpo a um verdadeiro projecto educativo, centrado na pessoa humana, no respeito incondicional da sua dignidade e direitos, e naturalmente, no cumprimento dos deveres inerentes à nossa condição de cidadãos.

A verdadeira educação creio dever estar aberta aos valores, por isso, concluo com a proposta dos quatro pilares, que o "Bom Papa" João XXIII apontou na Encíclica "Pacem in Terris", para edificação de um Mundo melhor: Verdade; Justiça: Liberdade; Amor. Uma educação sem valores ou à margem dos valores das famílias, é uma forma inaceitável de ditadura, que até pode formar pessoas tecnicamente competentes, mas, com uma grande probabilidade, vazias, individualistas, insensíveis, insolidárias.

Para todos vós, caros leitores, sobretudo, para os mais jovens, os meus votos de um Ano Letivo 2015-2016 rico de novas experiências e de crescimento, a todos os níveis, sobretudo em humanidade.

Pe. Manuel António Guerreiro do Rosário
in Ecos de Grândola, nº 282, 09 de Outubro de 2015