sábado, 14 de novembro de 2015

A esperança para além da esperança


o chegar esta época do ano, sinto como que um impulso a escrever algumas linhas sobre o sentido da vida humana, sobre a morte e a vida para além da morte, embora, como sacerdote e pároco, lide diariamente com estas questões, que afetam todos sem exceção e não deixam de nos interpelar.

Como cristão, sei que a nossa vida tem um sentido e que a morte o não interrompe definitivamente, mas apenas nesta dimensão terrena em que vivemos a condição humana. Até racionalmente, considero que a nossa existência seria muito pobre se tudo se esgotasse neste Mundo. E a verdade é que existe em todos os seres humanos uma sede de eternidade, mesmo que nem sempre tenha resposta, ou seja encaminhada da forma mais adequada.

Para quem é cristão, a resposta passa por Cristo, o Filho de Deus, que, ao assumir a nossa humanidade, partilhou connosco a Sua divindade e nos assumiu também como Seus irmãos e filhos de Deus (filhos no Filho, dirá S. Paulo) e isto faz a diferença, e tem feito, para tantos milhões de homens e mulheres, das mais diversas raças, línguas e culturas, ao longo dos séculos. Nada fica na mesma quando nos abrimos à luz da fé e percebemos que a eternidade, o absoluto, a divindade, se abrem a nós e alargam os nossos limitados horizontes, fazendo-nos entender que é na vida para além da morte, vida em plenitude, que se revela a totalidade da condição humana.

Um dos símbolos que usamos no batismo é a luz e é perfeitamente correto para expressar que sem fé estamos “cegos” para imensas realidades, que permanecem sem sentido nem explicação; a nossa própria vida, cheia de tantas interrogações e mistérios aspira a respostas, que nós cristãos encontramos em Cristo e no dom da fé.

É vulgar dizer-se que a esperança é a última coisa a perder-se; pois bem, a esperança cristã leva-nos ainda mais longe e permite-nos concluir que em Cristo a esperança humana é alargada até ao infinito, pois é esse o seu verdadeiro limite.

Pe. Manuel António Guerreiro do Rosário
in Diário do Alentejo, nº 1751, 13 de Novembro de 2015