terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Vencer a indiferença, globalizar a fraternidade


Ao terminar 2015 e ao iniciar-se um novo ano, tocou­me especialmente a Mensagem do Papa Francisco para o dia 01 de Janeiro, Dia Mundial da Paz e, por isso, não resisti em partir do tema da indiferença, para desenvolver esta breve reflexão.

Uma das vantagens que a globalização trouxe foi, sem dúvida, a possibilidade de estarmos todos mais próximos e de tomarmos consciência da pertença a uma única Família Humana, que habita uma Casa Comum, pela qual todos somos responsáveis. Esta mundividência foi potenciada pelas redes sociais e pelas novas autoestradas da comunicação, que permitiram democratizar o acesso à informação e capacitar cada pessoa para poder entrar neste novo mundo e nele dar também o seu contributo, deixando a sua marca pessoal, invertendo até o rumo de alguns acontecimentos. Por tudo isto, o início de um novo ano, constitui um desafio a que utilizemos em favor do bem comum universal todos estes meios e os demais que vierem a ser inventados pelo génio humano. Interrogo-me, contudo, algumas vezes, se estaremos a utilizar devidamente estes meios, para nos humanizarmos mais e estarmos não apenas tecnologicamente mais próximos, mas efetiva e afectivamente em comunhão uns com os outros.

A banalização das notícias, que nos invadem em catadupa, e nos retiram a capacidade de sobre elas reflectirmos; o imediatismo e a "perda de memória"; a ingratidão e o oportunismo; o utilitarismo e a cultura do "descartável" (como gosta de referir o Papa Francisco); a superficialidade e a cultura da "aparência"; ameaçam empobrecer a relação entre nós seres humanos, tornando-nos perigosamente mais indiferentes uns para com os outros. Basta relembrarmos o drama dos refugiados que tentam atravessar o Mar Mediterrâneo e quando é que este facto é notícia e, logo a seguir, deixa de ser...

A crueza desta constatação não diminui, no entanto, em mim, a fé que tenho no ser humano e na capacidade que ele tem de se abrir e envolver em causas nobres, humanitárias e solidárias. Faço esta profissão de fé no novo ano, ao mesmo tempo que assumo da minha parte esta missão que considero de fundamental importância para a Família Humana.

Como cristão tenho ainda uma outra dimensão que acresce a quanto acabo de afirmar: Jesus ensinou-nos a rezar "Pai nosso" e afirmou que o mandamento do amor a Deus se manifesta e confirma no mandamento do amor aos irmãos. Daqui resulta uma responsabilidade maior para todos quantos nos dizemos cristãos e que, por esse mesmo facto devemos aproveitar as imensas potencialidades que a globalização destes meios nos dá, empenhando-nos em construir um mundo verdadeiramente mais humano, mais fraterno e, por isso mesmo, menos indiferente ao próximo, que é afinal nosso irmão.

Um abençoado e cheio de bons projectos Ano de 2016

Pe. Manuel António Guerreiro do Rosário
in Ecos de Grândola, nº 285, 08 de Janeiro de 2016