sexta-feira, 8 de abril de 2016

O milagre da vida humana


vida humana é simultaneamente mistério e maravilha, e uma fonte inesgotável para sobre ela escrevermos.

Hoje vivemos um tempo de paradoxos: nunca como até hoje tivemos tanta capacidade de vencer doenças no início e no terminus da vida, descendo a taxa de mortalidade infantil e aumentando a esperança média de vida. Contudo, olhamos para as taxas de natalidade de países como o nosso e só podemos concluir que se enveredou por uma espécie de suicídio demográfico, de consequências ainda imprevisíveis, sendo tímidos os sinais de mudança, por parte de quem é mais responsável. Pelo contrário, promovem-se políticas de controlo da natalidade, facilita-se o aborto, pretendendo fazer esquecer que se trata de vida humana, e, agora, saltou para a ribalta a questão da eutanásia.

Do que tenho lido, ressalta à primeira vista a confusão (deliberada ou inocente) na terminologia. Mete-se tudo no mesmo saco, esquecendo que, para além da eutanásia (abreviação da vida; morte doce, suave), existe a distanásia (que é o oposto da eutanásia, e se resume no prolongamento da vida já inviável, também chamada encarniçamento terapêutico) e ainda a ortotanásia (morrer com dignidade). Além do mais, é preciso não esquecer a definição de morte, sobre a qual existem diferentes escolas, com posições diversas e até antagónicas.

Há ainda realidades a ter em conta: a eutanásia pode ser por acção ou omissão, do próprio ou de terceiros, e não se resume apenas a actos, mas supõe também intenções. São obviamente muitas as questões que, por brevidade, não poderei aqui aprofundar. Não esqueçamos, contudo, uma grande vitória sobre a doença: os cuidados paliativos.

Não gostaria também de esquecer o papa Francisco e a sua defesa da vida, contra as tentativas de a tornar “descartável”. A vida, toda a vida, vale a pena. O utilitarismo, o materialismo e o egoísmo são a grande ameaça que paira sobre os mais frágeis da nossa sociedade. Não estaremos perante uma forma velada de eugenismo?

Pe. Manuel António Guerreiro do Rosário
in Diário do Alentejo, nº 1772, 08 de Abril de 2016