sexta-feira, 13 de maio de 2016

Ser ou ter?


dilema entre ser e ter, creio que será uma das questões mais pertinentes da atualidade.

Em tempos da Revolução Industrial, era fácil perceber as dicotomias: por um lado, o Capitalismo e o desejo imoderado de lucro, que levava à exploração dos trabalhadores; por outro, o Marxismo ateu que, excluindo a abertura ao transcendente, recluía o Homem na imanência, tornando-o peça do sistema. Hoje, porém, é muito mais difícil delimitar os campos e discernir, porque os “muros” caíram, as clássicas ideologias faliram e vai-se impondo um sincretismo materialista, de contornos ainda indefinidos.

Assim, o que ontem condenávamos e considerávamos sinal de prepotência, ditadura e desumanidade, hoje, mercê de muitas “plásticas”, é-nos apresentado como sinal de modernidade e de desenvolvimento e, sem nos apercebermos, caímos nas tentações do ter, do poder e do parecer.

Este novo materialismo prático parece ser arquitetado por multinacionais, que querem vender o seu produto; por ideologias, que pretendem impor a sua visão sobre o Homem e o Mundo; por minorias que querem governar, e exercem o poder através dos grandes mass media e das redes sociais.

Privados da capacidade crítica, falta-nos a lucidez para perceber que as nossas sociedades andam à deriva, sem referências, nem sentido; vivem no culto do imediatismo e dos prazeres efémeros, anestesiadas pela indiferença e pela insensibilidade ao outro; e que cada vez nos tornamos mais egoístas e individualistas.

Para onde caminham as nossas sociedades, é a pergunta que me faço amiúde?

Como homem e como cristão, gostaria de partilhar algumas propostas. O papa Bento XVI, na “Encíclica Caritas in Veritate” (2009), dizia-nos, inspirado na encíclica do papa Paulo VI, “Populorum Progressio” (1967), que necessitamos de voltar a colocar o Homem no centro, para que ele se torne “a medida de todas as coisas” (Protágoras), e seja respeitado na sua dignidade e direitos, inclusive o direito à liberdade religiosa.


Pe. Manuel António Guerreiro do Rosário
in Diário do Alentejo, nº 1777, 13 de Maio de 2016