sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

Natal e a Esperança que Renasce


O Natal é uma época do ano que não deixa ninguém indiferente, mesmo que o seu sentido cristão, para muitos, se tenha perdido, desvanecido, ou nunca se tenha revelado, por razões diversas, às vezes, à margem da vontade pessoal. Basta lembrar, por exemplo, quem vive em países onde não existe liberdade, nem liberdade religiosa, e são tantos actualmente.

Mesmo nestes ambientes, sobretudo em países onde ser cristão é ser candidato à prisão e mesmo ao martírio, há, contudo, sinais na sociedade de que este é um tempo diferente e, os cristãos, mesmo apesar das dificuldades, teimam em não abdicar de celebrar o nascimento de Jesus. Talvez os nossos leitores não saibam, mas os cristãos somos hoje o grupo religioso mais perseguido em todo o Mundo: largas dezenas de milhões de pessoas, duzentos milhões, segundo outros dados. Neste ano de 2016 foram mortos 90.000 cristãos, vítimas de discriminação e perseguição religiosa.

Para quem é cristão, porém, uma missão ingente que não devemos descurar, é, por isso mesmo a revelação do verdadeiro sentido do Natal: a humanidade de Deus, manifestada no Menino nascido em Belém, que nos veio reconciliar com Deus Pai e uns com os outros, fazendo-nos descobrir que somos uma única Família Humana, que habita numa Casa Comum, este nosso planeta azul.

A fé cristã e o Natal dizem-­nos que somos irmãos. Ora, se somos irmãos, somos também responsáveis uns pelos outros e por fazer deste Mundo um local melhor, mais justo, mais humano e fraterno, onde a guerra não seja protagonista, onde as doenças sejam combatidas e vencidas, e onde os sentimentos mais negativos não se sobreponham, antes sejam suplantados e vencidos pela força do amor e do perdão. Ao dizer isto tenho consciência de que há muito mal no Mundo, mas, ser cristão é não baixar os braços, nem colocar-se na posição cómoda de se limitar a constatar o que está mal, sem se comprometer, nem se envolver na transformação dessas mesmas realidades. Esse é, aliás, um dos sentidos do Natal: Deus envolve-se, humaniza-se, corre o risco de se comprometer connosco, pelo que, não podemos ficar indiferentes a este facto, nem ficar-nos pela retórica, pouco evangélica, de que o Mundo é mau e que está tudo perdido, não valendo a pena fazer nada. Natal, pelo contrário, é esperança, é desafio e compromisso de mudar o Mundo e de o tornar como Deus quer e Jesus veio indicar-nos os caminhos que devemos trilhar, se aceitar­ mos o seu desafio.

Outra das riquezas do Natal é a simplicidade e, a humildade. Jesus, o Filho de Deus, segunda pessoa da Santíssima Trindade, assume a condição humana na pobreza de Belém, para nos revelar o amor infinitamente misericordioso de Deus para com toda a Humanidade e partilhar connosco a sua vida, para que a nossa vida ganhe todo o seu sentido.

Viver o espírito do Natal é centrarmo-nos, pois, no essencial, e o essencial não são as coisas, as prendas, o dinheiro. O essencial somos nós, a quem Jesus convida a abrirmos o coração e a fazermos dele uma casa acolhedora onde habitem os verdadeiros sentimentos que caracterizam o Natal e que são a promessa de que o Mundo melhor é possível e depende de nós, de todos e cada um de nós.

É preciso acreditar que o Mundo e nós podemos ser diferentes e melhores se também semearmos estes valores, sobretudo, nas novas gerações, para que a boa semente possa dar fruto, no presente e no futuro. Não esperemos colher onde não for semeado, pelo que, importa ser perseverante na sementeira dos verdadeiros valores e virtudes que podem ajudar a humanizar as nossas sociedades e a fortalecer os laços entre as pessoas, os povos, as religiões. O Natal traz ao de cima o que de melhor existe no coração humano.

Um santo Tempo de Natal e um abençoado Ano de 2017.

in Ecos de Grândola, nº 297, 13 de Janeiro de 2017