quarta-feira, 31 de maio de 2017

Desporto: É Urgente Mudar de Paradigma


Hesitei bastante sobre o tema desta minha crónica mas, finalmente, decidi-me por falar um pouco, até por me considerar um leigo nestas questões, sobre o ambiente que se respira no mundo do desporto, no nosso país.

Com efeito, fico deveras incomodado, perplexo até, com as notícias sobre adeptos de clubes escoltados por forças de segurança, aparentemente, para evitar males maiores; agressões, físicas e/ou verbais entre claques; debates quase incandescentes entre comentadores desportivos e dirigentes de clubes.

Creio que há demasiada violência dentro do coração humano, pelo que, com extrema facilidade, se cometem excessos e, uma das suas consequências, é a banalização da vida humana e o desrespeito pela dignidade que cada pessoa merece, o que é um paradoxo, porquanto estamos num tempo de grande respeito pela natureza, pelo equilíbrio ecológico, pelos animais. Confesso que também me sinto incomodado quando ouço falar em somas tão avultadas nos contratos, nas transferências, e em tantos negócios ligados ao desporto, quando, por outro lado, há tantos portugueses a viverem com ordenados e pensões tão magras. É uma contradição que em nada contribui para anular o fosso que existe entre seres humanos, iguais em dignidade e direitos, ou será que há cidadãos de primeira e de segunda?

Perante tudo isto, dou comigo a pensar:

- O que é que se ganha e quem é que ganha com este ambiente e as permanentes polémicas que envolvem o desporto português?

- Como é possível passar uma mensagem positiva e construtiva, especialmente para as novas gerações, quando são, tantas vezes, os mais responsáveis dos clubes a exaltarem os ânimos e a criarem focos de conflito?

- Não será isto os antípodas do que deve ser o desporto?

- Não será necessário mudar de paradigma e relançar a discussão sobre as grandes virtualidades do desporto?

Como atrás referi, não me sinto muito habilitado para aprofundar estas questões, apenas deixo aqui as preocupações de alguém que se sente, cada vez mais desiludido com as sementes de joio que vão crescendo e desvirtuando o desporto, e que importa, por isso, combater e encontrar caminhos alternativos, para bem das nossas comunidades, sobretudo, das novas gerações.

Atrevo-me a lembrar alguns dos valores inatos ao desporto e que importa recuperar e semear com firmeza e continuidade: o direito à diferença, o respeito pelo outro, o altruísmo, a solidariedade, a comunhão, a fraternidade e a verdade.

Penso que ainda estamos a tempo de inverter caminhos e os exageros que têm tido lugar nestes últimos tempos são bem uma chamada de atenção, ou será necessário haver ainda mais incidentes, com mais mortes, para se mudar de atitude e procedimentos?

Apesar de tudo, acredito no ser humano e, como cristão, atrevo-me a dizer que Deus também acredita em nós!

in Ecos de Grândola, nº 301, 12 de Maio de 2017