quinta-feira, 15 de junho de 2017

Verdade e Objectividade


Já há algum tempo que não reflectia sobre um tema que me é particularmente caro: a verdade e a objectividade.

Quando olho para a realidade que nos envolve, no nosso País e fora dele, fico apreensivo perante as formas, tantas vezes imperfeitas e parciais, de se apresentarem alguns acontecimentos: dá a impressão que eles são transmitidos segundo aquilo que convém a quem transmite a notícia, ou a desenha, sem a preocupação de a apresentar sem leituras, mas com objectividade, para que essa missão fique do lado da opinião pública, do leitor, do ouvinte, do telespectador, do internauta. Parece que há uma prévia definição de objectivos e a realidade transmitida já está previamente domesticada, para dizer aquilo que "nós queremos'', não deixando que os acontecimentos tenham a força que lhes é inerente e deles dimana com toda a sua autenticidade.

É verdade que a nossa subjectividade tem sempre uma quota-parte na nossa apreensão da realidade e na sua transmissão, mas não ao ponto de a deturpar, retirando o que não convém e transmitindo só aquilo que possa vir confirmar o que se pretende transmitir. Nesta linha, recordo-me um texto da Bíblia que diz: "Deus não existe." Mas, depois, o texto continua: "diz o ímpio no seu coração". Se eu retirar esta segunda parte, também poderei afirmar que a Bíblia diz que Deus não existe. Este é apenas um simples exemplo daquilo que não deve ser, sobretudo, quando se tem a missão de informar e se pretende contribuir para a formação de uma opinião pública crítica e reflexiva.

A verdade vale por si própria, venha de quem vier, e como tal deve ser reconhecida e respeitada. Equilibrar a nossa subjectividade com uma boa dose de objectividade parece-me ser uma necessidade nos tempos que correm, sob pena de cairmos no subjectivismo, no individualismo e, pior ainda, no "vale tudo", quando se definem objectivos a cumprir a qualquer preço. Há também uma norma, nesta linha, que todos devemos conhecer e que creio ser igualmente necessária: os fins não justificam os meios.

O que acabo de afirmar creio não ser apenas evidente para quem é cristão, mas, penso eu, para qualquer pessoa que procure viver segundo os desígnios da sua consciência e na fidelidade a valores partilhados universalmente, pelo menos, por grande parte da humanidade.

Como tenho referido muitas vezes, apesar destas observações, algumas vezes críticas sobre a realidade que me rodeia, continuo a ser uma pessoa positiva e optimista: acredito nas pessoas e na mudança das mesmas e acho que é necessário ir lançando sementes positivas no coração, em particular, das novas gerações, para contrabalançar tanta negatividade, pessimismo e egoísmo que circula por este mundo real e virtual.

Também é importante ser paciente e não imediatista, porque a formação de uma pessoa humana é um projecto para uma vida, e nem é sempre linear, e, por isso, é preciso ir semeando com paciência e perseverança.

Termino com uma frase que me é muito querida: acredito que há mais bem do que mal neste Mundo, só que o mal faz mais barulho!

in Ecos de Grândola, nº 302, 09 de Junho de 2017