segunda-feira, 17 de julho de 2017

Apostar numa mudança de paradigma


Nestes últimos dias, talvez fruto da tragédia dos incêndios, tenho cogitado sobre a oportunidade e necessidade de instaurar entre nós, uma cultura que privilegie a competência, e que aposte decididamente na prevenção, transversalmente, para que não seja necessário tomar decisões apressadas, e não raro atabalhoadas, como diz a sabedoria popular: "depois da casa arrombada".

Esta minha constatação creio que poderá ter aplicações em sectores variados da nossa vida colectiva, para benefício de todos e para que possamos construir e legar um futuro mais consistente e melhor às gerações que nos sucederão.

Penso já ter, noutras ocasiões, dado umas pinceladas sobre estas temáticas, mas gostaria de voltar novamente a elas, porque os casos repetem-se, as marcas profundas vão permanecendo e os estragos, tantas vezes, perduram e são impossíveis de apagar.

Passo a deixar algumas questões que me interrogam e incomodam:
Porque é que sempre que muda um Governo, qualquer que seja a sua cor política, se assiste "à dança das cadeiras"?

Que critérios são tidos em conta nestas e noutras nomeações? São baseados na competência e no rigor, ou são meros cargos de nomeação política?

Porque não se consegue chegar a consensos alargados, no espectro político-partidário, sobre questões essenciais, em áreas prioritárias, tendo em conta um horizonte que não se esgote numa legislatura?

Porque se insiste em manter arredada da praça pública uma cultura permanente da programação e da avaliação, quando está provado que a nossa capacidade não se esgota no improviso, que deverá ser sempre a excepção e nunca a regra?

Estas minhas interrogações não são sinal de descrença ou de desvalorização das nossas capacidades, antes pelo contrário, e, como já referi em anteriores ocasiões, vivi na primeira pessoa, em vários países, e escutando testemunhos dos quatro Continentes, a marca positiva que caracterizou a portugalidade. É bom não esquecer o passado, a nossa história e a nossa memória, que bem nos podem inspirar a voos mais altos e consistentes, sempre conscientes da nossa realidade e das mudanças que, entretanto, se deram no xadrez internacional.

Acredito nas potencialidades do Portugal hodierno e dos portugueses, mas não penso que o caminho passe pela pequena política, refém de interesses particulares e de clube, pelos oportunismos, pelo chicoespertismo, antes exige a coragem de romper com os atavismos do "sempre foi assim", e a aposta em pessoas e projectos que se concretizem num real desenvolvimento, como diria o Papa Paulo VI" do homem todo e de todo o homem", que tenha como objectivo promover o bem comum de todos os portugueses e, se quisermos alargar os horizontes, contribuir para um bem comum global.

Apetece-me lembrar, e deste modo terminar, com uma frase do Papa João Paulo II: "não nos contentemos com a mediocridade, mas aspiremos à santidade".

in Ecos de Grândola, nº 303, 14 de Julho de 2017