sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Os fins não justificam os meios


Não sei se esta afirmação faz sentido para toda a gente, mas creio que, se fosse assumida em muitas dimensões da nossa vida pessoal, comunitária e social, evitar-se-iam muitos problemas e males de que enferma o nosso tempo, e não duvido que, um dos resultados mais visíveis e indiscutíveis, seria o facto de termos um Mundo menos egoísta, egocentrista e individualista, e mais solidário, fraterno e justo.

Para mim, faz todo o sentido ter de pensar no outro, pois a ideologia do "vale tudo" não só não serve, como é extremamente nefasta nas suas ramificações, porque abre as portas apenas ao "meu", esquecendo o "teu" e o "nosso", o que no tornará cada vez mais insensíveis para com o próximo, e até para com o ambiente que nos rodeia, na medida em que, paulatinamente, nos vai encerrando no castelo dos nossos interesses, aqueles que, nesta perspectiva, serão os únicos lícitos e que realmente interessam.

Estou consciente que talvez, deliberadamente, esteja a exagerar, mas, se olharmos um pouco à nossa volta, não será difícil identificar manifestações de quanto acabo de afirmar. Para não limitar o sentido crítico dos nossos leitores, adianto apenas um exemplo. O nosso País está assolado pelo drama dos incêndios e é voz frequente dizer-se que muitos deles são de origem criminosa. Quem é que ganha com os incêndios? Uma coisa é certa, para além das perdas de vidas humanas, de bens, de sonhos acalentados, e de um sem número de realidades, é o país no seu todo que empobrece e definha! Entre o bem de um país e interesses particulares e mesquinhos, creio que não restarão dúvidas sobre o bem maior, pelo qual vale a pena lutar e que, por isso mesmo, deve prevalecer e sobrepor-se aos interesses particulares e, neste caso, egoístas.

Uma conclusão que é lícito tirar é que, se pensássemos mais nos outros, nas consequências das nossas palavras e dos nossos gestos, talvez não agíssemos como tantas vezes acontece, porque procuraríamos pensar sempre no plural e não apenas no singular.

O conteúdo deste texto penso ser de fácil compreensão, mesmo para quem não tenha fé, porque ele se baseia em dados e critérios eminentemente humanos e racionais, não exigindo a fé para compreender o alcance da sua mensagem.

É claro que, para quem é cristão, as razões da fé redobram e reforçam as exigências desta afirmação e, se a ignorância desculpabiliza, o conhecimento agrava a responsabilidade daqueles que, por isso mesmo, não deveriam ser insensíveis aos apelos à mudança e, antes pelo contrário, deveriam estar na primeira linha da disponibilidade para, com compromisso, se empenharem na transformação das nossas sociedades.

Penso que, o inconformismo, a insatisfação, o desejo de mais e melhor poderiam e deveriam ser o motor da nossa vida.

Termino com uma frase do fundador do Escutismo, Baden-Powell: "procura deixar este mundo um pouco melhor do que o encontraste". Imaginemos o alcance deste desafio, se ele fosse acolhido de forma generosa e consequente, não apenas pelos escuteiros, mas também por cada um de nós, pêlos crentes e pelos homens e mulheres "de boa vontade"!

Espero que o período das férias tenha, para além dos benefícios que lhe são inerentes, proporcionando ainda a ocasião de fazermos todos um exame de consciência, que possa ter consequências benéficas na nossa higiene interior, e no nosso agir.

in Ecos de Grândola, nº 305, 08 de Setembro de 2017