Esta afirmação, que pode ser encontrada na 1ª Carta do Apóstolo
e Evangelista S. João, é de grande importância e nunca perde a sua actualidade.
Ao pensar nela, vêm-me à memória tantas situações em que se aplica.
É possível até encontrar um sem número de expressões, algumas
de cariz popular, que a confirmam e reforçam. Dou apenas alguns exemplos: "a verdade é como o azeite, vem sempre ao
de cima". "A mentira tem perna
curta", etc. Não vou alongar-me, pois, queria tão só reforçar que a sua
aplicação se pode fazer em muitos âmbitos, porque nada nem ninguém dela fica isento,
mesmo dentro da Igreja Lembro a este propósito, um Documento do Concílio Vaticano
II, sobre a Liberdade Religiosa, onde se afirma que a verdade não se impõe, ou melhor,
impõe-se pela sua própria força.
Não é fácil hoje entendermos a força e as consequências desta
afirmação, se desvalorizarmos a dimensão da objectividade nos nossos juízos, e nos
centrarmos apenas na nossa subjectividade, ou pior ainda, no nosso subjectivismo.
Aqui tudo é desculpável e justificável e, no fundo, nada muda, porque o único critério
para aferir a verdade somos nós e a nossa consciência, e esta pode enganar-se e
engana-se tantas vezes.
A verdade pode provocar dor e sofrimento, porque nos coloca
diante da realidade do que somos e nem sempre queremos aceitar, tornando-se mais
fácil procurar subterfúgios e justificações, que nada resolvem e que só contribuem
para avolumar problemas. Depois do sofrimento, o alívio, a paz, e a tranquilidade
são o sinal evidente de que este é o caminho e é por ele que devemos seguir. Este
processo supõe a disponibilidade interior para irmos formando a consciência, para
que ela seja o nosso despertador, antes, durante e depois, e nos vá conduzindo pelos
caminhos que nos ajudam a construir sobre a solidez da rocha e não sobre a insegurança
da areia (Jesus).
Só a verdade nos permite ainda criar relações sólidas, verdadeiras
e desinteressadas uns com os outros, que, por sua vez, podem gerar autênticas amizades,
e é ela que nos pode levar também à descoberta de Deus e à relação com Ele. A mentira,
pelo contrário, afasta-nos uns dos outros e de Deus, e leva-nos por caminhos aparentemente
mais fáceis, e que com o seu brilho (falso) nos podem iludir. Ela aparece ainda,
muitas vezes, mascarada de verdade: estejamos atentos.
Evitemos também o reducionismo da “nossa verdade”. Somos nós
que nos devemos conformar com ela e não o contrário, por muito que nos custe. Não
somos donos da verdade, ela é que deve ser a luz, o farol, que guia e orienta a
nossa existência.
in Ecos de Grândola, nº 318, 12 de Outubro de 2018