quinta-feira, 18 de outubro de 2018

Só a Verdade liberta



Esta afirmação, que pode ser encontrada na 1ª Carta do Apóstolo e Evangelista S. João, é de grande importância e nunca perde a sua actualidade. Ao pensar nela, vêm-me à memória tantas situações em que se aplica.

É possível até encontrar um sem número de expressões, algumas de cariz popular, que a confirmam e reforçam. Dou apenas alguns exemplos: "a verdade é como o azeite, vem sempre ao de cima". "A mentira tem perna curta", etc. Não vou alongar-me, pois, queria tão só reforçar que a sua aplicação se pode fazer em muitos âmbitos, porque nada nem ninguém dela fica isento, mesmo dentro da Igreja Lembro a este propósito, um Documento do Concílio Vaticano II, sobre a Liberdade Religiosa, onde se afirma que a verdade não se impõe, ou melhor, impõe-se pela sua própria força.

Não é fácil hoje entendermos a força e as consequências desta afirmação, se desvalorizarmos a dimensão da objectividade nos nossos juízos, e nos centrarmos apenas na nossa subjectividade, ou pior ainda, no nosso subjectivismo. Aqui tudo é desculpável e justificável e, no fundo, nada muda, porque o único critério para aferir a verdade somos nós e a nossa consciência, e esta pode enganar-se e engana-se tantas vezes.

A verdade pode provocar dor e sofrimento, porque nos coloca diante da realidade do que somos e nem sempre queremos aceitar, tornando-se mais fácil procurar subterfúgios e justificações, que nada resolvem e que só contribuem para avolumar problemas. Depois do sofrimento, o alívio, a paz, e a tranquilidade são o sinal evidente de que este é o caminho e é por ele que devemos seguir. Este processo supõe a disponibilidade interior para irmos formando a consciência, para que ela seja o nosso despertador, antes, durante e depois, e nos vá conduzindo pelos caminhos que nos ajudam a construir sobre a solidez da rocha e não sobre a insegurança da areia (Jesus).

Só a verdade nos permite ainda criar relações sólidas, verdadeiras e desinteressadas uns com os outros, que, por sua vez, podem gerar autênticas amizades, e é ela que nos pode levar também à descoberta de Deus e à relação com Ele. A mentira, pelo contrário, afasta-nos uns dos outros e de Deus, e leva-nos por caminhos aparentemente mais fáceis, e que com o seu brilho (falso) nos podem iludir. Ela aparece ainda, muitas vezes, mascarada de verdade: estejamos atentos.

Evitemos também o reducionismo da “nossa verdade”. Somos nós que nos devemos conformar com ela e não o contrário, por muito que nos custe. Não somos donos da verdade, ela é que deve ser a luz, o farol, que guia e orienta a nossa existência.


in Ecos de Grândola, nº 318, 12 de Outubro de 2018