domingo, 22 de setembro de 2019

Pelos frutos se conhece a árvore


Esta expressão encontramo-la várias vezes no Evangelho e, na sua sequência, Jesus acrescentará que: "uma árvore boa dá bons frutos e uma árvore má dá maus frutos". É evidente, mas esta evidência questiona-nos, escrutina-nos, sobretudo, porque o refrão "bem prega Frei Tomás...", já não serve porque o Mundo mudou, e perante um leque variado de propostas religiosas, quem procura Deus, pode livremente e a resposta que melhor vai de encontro às suas inquietações. A Verdade não se impõe ou melhor, impõe-se por si própria e, só nela se pode construir solidamente.

Graças a Deus que vivemos numa Sociedade em que Estado e Igreja não se confundem, depois de séculos de encontros e desencontros que não são de repetir, a bem do Estado e da própria Igreja, que é hoje muito mais livre para se apresentar como é, na sua realidade e integralidade. Há, porém, duas atitudes a evitar, a primeira, é protagonizada pelos saudosistas, que têm "saudades das cebolas do Egipto", de um passado "glorioso", que já não volta, porque o tempo é marcado pelo devir constante. A segunda atitude, que também não é caminho, supõe a diluição no pensamento dominante, sem propostas de vida alternativas, expressão de uma "sociedade líquida", por um lado, mas, por outro, fortemente marcada e condicionada por agendas bem delineadas, obedecendo a ideologias que, lenta mas paulatinamente, pretendem reduzir a Religião, nomeadamente o Cristianismo, a mera questão de consciência, sem intervenção na Sociedade, um mero fenómeno de Sacristia.

O Mundo mudou, não o esqueçamos, e é, do ponto de vista religioso, também uma espécie de supermercado, por isso, serão os frutos desta vida nova, na nossa vida, que poderão ajudar aqueles que buscam um sentido, a descobri-lo em Cristo, Caminho, Verdade e Vida. E, para que os frutos sejam verdadeiros, a conversão não pode ser mera palavra vã e caduca na nossa boca, mas transformação por dentro em "árvores boas" que, só podem, por isso, dar bons frutos. Com efeito, como afirmou S. Paulo, o imperativo é uma consequência do indicativo: quem é de Cristo, só pode, como Ele viver, a vida de filhos (no Filho).

Há 50 anos o Concílio Vaticano II apontou um caminho, para que a Igreja continue a ser um sinal visível e credível de Cristo e do Seu plano de salvação para toda a Humanidade, e não há alternativa ao caminho que ele traçou. Este caminho passou por um regresso às fontes, ao Evangelho, o qual traz consigo uma força, uma alegria, um entusiasmo, uma liberdade de que nós cristãos devemos dar testemunho, como expressão desta vida nova que vem do Batismo e que, como diz S. Paulo, faz de nós Homens e Mulheres novos/as capazes de cantar na vida o Cântico Novo, pois, como diz Santo Agostinho: "O melhor cântico novo é a vida do cantor".

Confiemo-nos, pois, ao "Agricultor Divino", sem reticências, nem reservas, "escancarando-Lhe" (João Paulo II) o coração!

Pe. Manuel António Guerreiro do Rosário
in Notícias do Alentejo, 5 de Setembro de 2019