domingo, 22 de setembro de 2019

Reconhecer o bem que o outro faz



Com alguma frequência, nas homilias das Eucaristias, recordo as pessoas boas, extraordinárias, exemplares, que todos os dias encontro nas ruas e noutros locais da nossa terra, e por elas dou graças a Deus.

Já o disse vezes sem conta e insisto: há mais gente boa do que o contrário, embora o mal faça mais ruído e seja mais notícia, infelizmente. Muitas destas pessoas, mesmo sem viverem explícita e assumidamente como cristãos, são exemplos de humanidade e de serviço desinteressado e gratuito ao próximo, que me deixam interpelações e inquietações, e alguma tristeza, quando penso na falta de humanidade, insensibilidade e egoísmo que marcam a vida de tantos cristãos e que constituem um autêntico obstáculo a que, quem busca a Deus e a um sentido para a sua vida, o encontre na Fé Cristã e na Igreja Católica, em especial.

Sei que não posso mudar os corações: só Deus o pode fazer, mas, pela minha parte, continuo a insistir. E preciso ser coerente entre a fé em Deus que tantas vezes afirmamos ter, e a tibieza, pobreza, direi mesmo mediocridade (afirmava o Santo Padre João Paulo II) que caractetiza a nossa vida como cristãos. É uma responsabilidade grande ser discípulo de Cristo, ouvir tantos apelos à conversão, à santidade, à humanidade, e continuar a viver como senão tivéssemos fé. Somos mais responsáveis, como diz inúmeras vezes Jesus no Evangelho, do que aqueles que, não ouvindo o que nós ouvimos, são um terreno fecundo para que a semente do Evangelho aí venha a germinar um dia e a dar fruto.

Tenho motivos para estar feliz, como pastor destas Terras onde me encontro há mais de 10 anos, por ser testemunha de tantos milagres que Deus tem operado em tantas vidas, mas gostaria de ver ainda muitos mais, ou não tivesse eu escolhido para lema da minha Ordenação Sacerdotal há já 31 anos: "Ai de mim senão evangelizar!' Acredito que a fé cristã tem que ser redescoberta ou descoberta, consoante os casos, porque, infelizmente, nem sempre nós cristãos temos sido capazes de revelar, em toda a sua plenitude o Evangelho e a face misericordiosa de Jesus que, como Bom Pastor, não cessa de nos procurar, para nos revelar o quanto nos ama e como a nossa vida, sem Ele, ainda está incompleta.

Como no-lo testemunha Santo Agostinho, a partir da sua própria experiência, o Senhor clama e grita dentro e fora de cada um de nós, em muitas circunstâncias e acontecimentos da nossa vida Ele aguarda pacientemente até que a Sua voz rompa a nossa surdez, vença os nossos preconceitos e respeitos humanos, e nós O passemos a reconhecer como Caminho, Verdade e Vida, em quem podemos confiar e em quem a nossa existência ganha todo o sentido e experimenta aquela felicidade que só Ele nos pode conceder.

Caro/a leitor/a, aceite este desafio para as suas férias, se as tiver: desafie Deus a que se manifeste na sua vida e que você esteja disponível para ouvir e responder.


in Ecos de Grândola, nº 328, 09 de Agosto de 2019