sábado, 5 de julho de 2014

Critérios dos homens e critérios de Deus


escobri o Papa João XXIII nas leituras que fui fazendo ao longo dos anos. Segundo critérios humanos, pela sua avançada idade, ele seria um “Papa de transição”, e afinal foi o homem da renovação e da abertura da Igreja ao Mundo, ao diálogo com crentes e não crentes. Devemos-lhe a intuição do Concílio Vaticano II (1962-1965), o mais importante acontecimento eclesial dos nossos tempos.

Sucedeu-lhe um homem extraordinário e não menos providencial, Paulo VI. Dotado de uma clarividência, de intuições proféticas, de um estilo claro e profundo, conduziu a “barca de Pedro” por entre as tormentas de um Mundo em mutação e de uma Igreja em crise de identidade, e de deserção de clero. A seguir, tivemos um brevíssimo pontificado de João Paulo I, que, com o seu sorriso e palavras, conquistou o Mundo.

Sucedeu um dos mais longos pontificados, o de João Paulo II, também ele declarado recentemente Santo. Recordo-o como o Papa da minha juventude. Assistiu à queda de duas ditaduras, e foi obreiro de “Uma Europa do Atlântico aos Urais”. Como primeiro “Papa global”, levou a mensagem de Cristo a todo o Mundo, instituiu as Jornadas Mundiais da Juventude e contribuiu para a renovação da Igreja.

Bento XVI teve a ingrata missão de suceder a um “gigante da Fé”, mas a História lhe fará justiça, pela aposta clara que fez no diálogo com cristãos e crentes de outras Religiões, com o Mundo da Cultura e da Ciência. A sua craveira intelectual permanecerá na Igreja como um precioso legado do “essencial cristão”.

Todos somos neste momento testemunhas da acção deste autêntico “furacão de Deus” que é o Papa Francisco. Sobre ele muito mais haverá a dizer, mas os dados não mentem. O “Efeito Francisco” como muitos já lhe chamam, está a despertar a Igreja, convidando-a a renovar-se, a chegar às “periferias”, para que ninguém fique excluído do amor de Deus. Para um cristão a eleição de um Papa não é um mero exercício de contabilidade, de influências ou estratégias; mas sim, um sinal claro da presença de Deus e do Seu Espírito nesta Igreja, “Santa, de pecadores” (João XXIII). Todos eles são diferentes, mas cada um foi e é a resposta de Deus para cada momento da história.


Pe. Manuel António Guerreiro do Rosário
in Diário do Alentejo, nº 1680, 04 de Julho de 2014