domingo, 28 de fevereiro de 2016

24 horas para o Senhor


“Deus rico de misericórdia” é o tema da jornada de oração e confissão “24 Horas para o Senhor”, organizada pelo Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização e convocada pelo Papa Francisco em sua mensagem para a Quaresma 2016.

Em Grândola vamos celebrar o 24 horas para o Senhor de forma ininterrupta.

A celebração terá início com a Celebração da Eucaristia, na Igreja Matriz, às 18:00 horas do dia 04 de Março, prolongando-se em oração por grupos, com a exposição do Santíssimo, até às 04:00 horas do dia 05 de Março.


sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Mais responsáveis uns pelos outros


Talvez nunca como hoje o ser humano tenha tido a capacidade de ler e interpretar o passado, aprendendo com ele se tal foi o caso, e prever e condicionar o futuro, in­ vertendo procedimentos e alterando sucessivamente as perspectivas. Isto quer dizer que somos muito mais responsáveis pelo presente e pelo futuro, em diferentes níveis e áreas, do que os nossos antepassados; e esta é mais uma das grandes vantagens da globalização e desta mais recente revolução industrial em curso.

Se olharmos para o nosso Mundo, o horizonte que se abre diante de nós é fascinante, mas igualmente comprometedor, se de facto não tivermos medo de mergulhar na realidade e de querer intervir e transformar positivamente o status quo reinante, onde encontramos situações perfeitamente contraditórias e absurdas, de país para país e mesmo dentro do próprio país. Deambulamos entre as viagens espaciais, a descoberta de novos planetas e sistemas solares, e o flagelo da exploração, da discriminação, da guerra, do analfabetismo, das doenças endémicas, que há décadas já deveriam ter sido debeladas. Sob o mesmo tecto convivem ainda, infelizmente, o excesso alimentar e o desperdício, e a escassez daquilo que de mais básico é considerado em termos alimentares. No entanto, conhecedores de tudo isto, poderíamos e deveríamos fazer mais, muito mais, pois há alimentos suficientes para satisfazer todas as necessidades, e meios de os fazer chegar onde é necessário com rapidez. Não basta, porém, saber; é preciso querer e comprometer-se, pois as boas intenções e as boas palavras não são suficientes para resolver, de facto, os problemas reais das pessoas concretas.

Porque a história é um devir contínuo e nós não surgimos por geração espontânea, todos somos de certo modo herdeiros daquilo que nos foi legado pelas gerações que nos precederam, do bem e do mal, do que contribuiu para evolução da espécie humana e, em certos casos, da involução ou retrocesso da mesma. Não devemos, contudo, correr o risco de julgar com os nossos critérios actuais, o que teve o seu contexto espácio-temporal próprio, e que naturalmente, condicionou e orientou pessoas e acontecimentos num determinado sentido. Também nós estamos sujeitos ao juízo das gerações que nos sucederão e que poderão olhar para nós criticamente e concluir que, apesar de todos os meios de que dispomos, pouco fizemos para esbater e anular as desigualdades e injustiças gritantes que continuam a abater-se sobre tantos dos nossos contemporâneos.

É claro que talvez não esteja nas nossas mãos, individualmente falando a resolução dos grandes flagelos que afectam a humanidade, mas isso não é argumento que possa justificar a nossa indiferença, desinteresse, ou recusa de fazer algo de concreto em favor do nosso próximo. A história ensina-nos, entre outras coisas, que as pessoas fazem toda a diferença e quando nós queremos e nos envolvemos, algo à nossa volta pode ir mudando e isso pode ser o início de uma cadeia de transformações que tudo pode alterar, para melhor, pois, para pior não vale a pena; já basta o que temos.

Uma vez que estamos ainda no início de um novo ano, que tal olharmos para dentro de nós e à nossa volta, e tentarmos perceber aquilo que está ao nosso alcance e que pode contribuir para a mudança positiva deste nosso Mundo e do mundo que nos rodeia?

Não vamos esperar que sejam os outros, como às ve­zes dizemos, a tomar a ini­ciativa, vamos começar nós, hoje mesmo, agora!


Pe. Manuel António Guerreiro do Rosário
in Ecos de Grândola, nº 286, 12 de Fevereiro de 2016



Conhecimento versus responsabilidade



ão sei se todos estarão de acordo comigo, mas, por formação e convicção, creio firmemente que a nossa responsabilidade aumenta na medida em que crescemos, ganhamos autonomia, adquirimos conhecimentos e capacidades. Ficamos assim dotados de “instrumentos”, que nos permitem não deixar nas mãos dos outros, aquilo que depende cada vez mais de nós, a nível pessoal, profissional, familiar, e global.

Como cidadãos de corpo inteiro, passa a depender também de cada um de nós, se não fizermos como “Pilatos”, a transformação daquilo que está ou nos parece estar menos bem, ou mesmo mal. É evidente que o conhecimento por si só não basta, se não houver consequências e, sobretudo, vontade de fazer algo, de nos comprometermos, e realizarmos coisas concretas. Esta postura incómoda, convida à desinstalação, a não ficar sentado no sofá, de pantufas calçadas e a jogar com o computador, pois há tanto para fazer à nossa volta e nos quatro cantos do Mundo. É claro que custa crescer, abandonar o estatuto de espectadores e consumidores acríticos, e vestir a pele de agentes e de personagens principais da história do Mundo, que continua no seu devir em demanda de mais sentido, justiça e humanidade.

Os meios de que hoje dispomos permitem-nos ler o passado, interpretar o presente, prever e condicionar o futuro, como em nenhuma outra época da história da Humanidade, o que constitui uma novidade, mas nos deixa com o ónus de não permanecermos de mãos vazias, alheios, indiferentes, insensíveis aos grandes problemas que afectam o nosso planeta azul.

A noção realista do que está ao nosso alcance é fundamental para não oscilarmos entre as grandes ideias e projectos, e o nada. É claro que nem tudo depende de nós, como é óbvio, mas há tanto para fazer, se quisermos e nos comprometermos.


Que o novo ano, que ainda há pouco viu a luz, desperte em nós o desejo de rompermos a cadeia fatalista do “sempre foi assim”, ou “os outros que façam”.

Pe. Manuel António Guerreiro do Rosário
in Diário do Alentejo, nº 1764, 12 de Fevereiro de 2016