sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Conhecimento versus responsabilidade



ão sei se todos estarão de acordo comigo, mas, por formação e convicção, creio firmemente que a nossa responsabilidade aumenta na medida em que crescemos, ganhamos autonomia, adquirimos conhecimentos e capacidades. Ficamos assim dotados de “instrumentos”, que nos permitem não deixar nas mãos dos outros, aquilo que depende cada vez mais de nós, a nível pessoal, profissional, familiar, e global.

Como cidadãos de corpo inteiro, passa a depender também de cada um de nós, se não fizermos como “Pilatos”, a transformação daquilo que está ou nos parece estar menos bem, ou mesmo mal. É evidente que o conhecimento por si só não basta, se não houver consequências e, sobretudo, vontade de fazer algo, de nos comprometermos, e realizarmos coisas concretas. Esta postura incómoda, convida à desinstalação, a não ficar sentado no sofá, de pantufas calçadas e a jogar com o computador, pois há tanto para fazer à nossa volta e nos quatro cantos do Mundo. É claro que custa crescer, abandonar o estatuto de espectadores e consumidores acríticos, e vestir a pele de agentes e de personagens principais da história do Mundo, que continua no seu devir em demanda de mais sentido, justiça e humanidade.

Os meios de que hoje dispomos permitem-nos ler o passado, interpretar o presente, prever e condicionar o futuro, como em nenhuma outra época da história da Humanidade, o que constitui uma novidade, mas nos deixa com o ónus de não permanecermos de mãos vazias, alheios, indiferentes, insensíveis aos grandes problemas que afectam o nosso planeta azul.

A noção realista do que está ao nosso alcance é fundamental para não oscilarmos entre as grandes ideias e projectos, e o nada. É claro que nem tudo depende de nós, como é óbvio, mas há tanto para fazer, se quisermos e nos comprometermos.


Que o novo ano, que ainda há pouco viu a luz, desperte em nós o desejo de rompermos a cadeia fatalista do “sempre foi assim”, ou “os outros que façam”.

Pe. Manuel António Guerreiro do Rosário
in Diário do Alentejo, nº 1764, 12 de Fevereiro de 2016