segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Portugal: Riquezas e Desafios, Breves Notas de Reflexão


Um observador menos atento ficará, decerto, estupefacto perante tantas e tão grandes riquezas e potencialidades do nosso país, apesar das suas pequenas dimensões territoriais. Pensemos, por exemplo, no clima, na gastronomia, na música, no património, para citar apenas alguns sectores.

O reconhecimento das nossas potencialidades, porém, não nos deve iludir, ao ponto de nos considerarmos os melhores, ostentando um exagerado orgulho, que, por não ser realista, nos não leva a lado nenhum, a não ser a desilusões. Se olharmos, por exemplo, para a nossa secular história, não podemos cair na ilusão da grandeza do passado, quando "demos novos mundos ao Mundo", permanecendo acorrentados a ele e inadaptados a um Mundo em constante devir. Por outro lado, a falta de memória e o nivelamento “por baixo", reduzindo-nos à banalidade e superficialidade, também não me parece uma opção correcta.

Em linguagem cristã eu diria que nos faz falta uma dose razoável de humildade, que mais não é do que a verdade, pois nos ajuda a perceber as coisas boas e extraordinárias que possuímos, mas, ao mesmo tempo, não cria falsas ilusões daquilo que não somos. Há, pois, palavras que necessitamos de cultivar mais e de as transformar em projectos realistas: criatividade, inovação, honestidade, perseverança, competência, sacrifício.

Há, contudo, muito a fazer em diversos sectores que têm sido uma espécie de "parente pobre" das nossas políticas, independentemente dos Governos e da sua cor partidária. Pensemos, por exemplo, nos portugueses espalhados pelos quatro cantos do Mundo: não mereceriam muito mais apoio da mãe pátria? E o nosso património histórico e artístico, e a nossa língua, não nos dá a impressão de serem um capital pouco valorizado, quando poderiam ser um vector de afirmação nacional e de salutar orgulho?

E já agora, muitos dos nossos leitores saberão que nas comunidades portuguesas espalhadas por esse Mundo fora, uma das instituições de referência é a Igreja. Pergunto-­me, muitas vezes, até que ponto este facto é conhecido e valorizado pelos nossos políticos?

Um outro dado significativo tem a ver com a influência de Portugal no Mundo. Em muitas regiões do Globo onde fomos pioneiros, entre os traços característicos e distintivos da presença portuguesa, a fé cristã e católica ocupa um lugar incontornável. Por Roma, onde estudei durante vários anos, encontrei, para grande alegria minha, muitos e extraordinários exemplos de quanto acabo de afirmar, nomeadamente entre os povos do Continente Asiático. E a verdade é que em Itália cresci na alegria e no gosto de ser português, ao descobrir, no meio de muitos erros e lacunas, o génio, a audácia e o universalismo dos nossos antepassados. Há aqui, parece-me, um mar de potencialidades inexploradas, para além das questões económicas. Neste campo também me interrogo se as novas gerações conhecem suficientemente a nossa história e cultura humanista. Um dos perigos da globalização é, aliás, a perda das especificidades e identidades, embora seja evidente que fazemos todos parte desta "Aldeia Global".

A consciência do que fomos, creio ser essencial para vencermos as batalhas, naturalmente diversas, dos tempos que vivemos hoje, pois, quem não tem memória não tem futuro, ou mais facilmente será formatado por ideologias e projectos estranhos à portugalidade.

As vezes apetece-me dizer como o Maestro Lopes Graça: Acordai!!


Pe. Manuel António Guerreiro do Rosário
in Ecos de Grândola, nº 291, 08 de Julho de 2016