segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Em nome de Deus! Mas que Deus?


ão entendo e estou em profundo desacordo com uma certa retórica que coloca Deus quase exclusivamente como juiz, como polícia, que vigia, que pune, que faz sofrer o Homem.

Esta postura pode ter origem em diferentes âmbitos religiosos ou filosóficos, mesmo no Cristianismo, o que considero ser um erro colossal, e o resultado, quiçá, de um sincretismo, que projeta sentimentos e atitudes humanas em Deus, uma espécie de teomorfismo, que não tem qualquer suporte no Evangelho.

Como cristão acredito, com S. Paulo, que Jesus “é a imagem visível de Deus invisível” e, por isso, ao olhar para Ele e para a sua mensagem, descubro com admiração e encanto a magnanimidade de um autêntico e extraordinário humanismo, aberto à transcendência, e que pretende preencher e dar sentido à vida do Homem, este ser criado à imagem e semelhança de Deus, dirá o Livro dos Génesis, e desafiado em Cristo a tornar-se filho de Deus, dirá S. Paulo.

Jesus revela-nos e eu vou descobrindo este Deus Pai, que ama, que admoesta por amor, e que está sempre disposto a acolher aqueles que se afastam do redil, porque o seu amor é infinitamente misericordioso e o seu perdão um permanente Hoje, com efeitos retroativos.

Este Deus é incompatível com o mal, embora nem sempre seja fácil responder a todas as situações com que nos deparamos no nosso quotidiano; só sei e acredito e tenho disso a experiência, que Ele não se pode divertir fazendo-nos sofrer. Não, esse não é o Deus que Jesus veio revelar. Mas haverá outro Deus para além deste? Não creio, embora respeite, obviamente, quem pensa de forma diferente.

Neste Ano da Misericórdia, é deste Deus que nós, cristãos, somos chamados a dar testemunho, para que, quem quiser fazer a experiência, comprove como isto é verdade, e como o Seu amor pode transformar quem O encontra ou se deixa encontrar por Ele. Se não somos capazes de o transmitir a culpa é nossa, não d´Ele, e, por isso, mudemos!

Como diria o Papa João Paulo II: não tenham medo!


Pe. Manuel António Guerreiro do Rosário
in Diário do Alentejo, nº 1788, 29 de Julho de 2016